sábado, 28 de julho de 2007

Impotente, Porto Velho não combate tráfico, Fronteira com a Bolívia é área de risco; capital rondoniense tem dois mil mandados de prisão.

PF tem aumentado as apreensões de cocaína — DPF

CARLOS SPERANÇA (*) e AGÊNCIA AMAZÔNIA - PORTO VELHO — Atônita, a população de Porto Velho assiste a uma nova escalada da criminalidade. Das esquinas da Avenida Petrolina, que corta os bairros Mariana e São Francisco, aos becos do Mocambo, na região central, o tráfico de entorpecentes se alastra, causando mais embates entre jovens com a polícia, de traficantes contra traficantes, impulsionando as estatísticas de latrocínios, homicídios e da prostituição.

Onde tem droga, a exemplo dos morros do Rio de Janeiro, ou nas favelas de Foz do Iguaçu, a criminalidade se espraia. Na capital rondoniense, onde existem centenas de pontos identificados de vendas de drogas, não poderia ser diferente. Afora a grave crise social, provocada pelo desemprego, cuja solução vai depender de ações do governo federal para melhorar os indicativos de qualidade de vida da população brasileira, a questão da segurança pública em Rondônia passa pela falta de união entre os governos federal, estadual e municipal. O combate à criminalidade exige atitudes coesas das três esferas, o que não tem ocorrido, constata-se.

Crise penitenciária
Da parte da União, reclama-se de ações voltadas à repressão do tráfico de drogas na fronteira com a Bolívia. Rondônia se transformou nos últimos 12 num quintal dos cartéis dos barões do pó, tal qual anos 80. Além do Ministério da Justiça não agir com mais rigor com relação ao tráfico de drogas que se agrava na região, o Estado precisa de mais socorro quanto à permanente crise penitenciária. Rondônia tem mais presos do que os estados do Acre, Amazonas, Amapá e Roraima juntos.

A complexidade desse problema ganha mais dimensões com o barril de pólvora provocado pela existência de quase 2 mil mandados de prisão de bandidos à solta na capital. São latrocidas, estupradores, ladrões, traficantes etc. Um coquetel explosivo.

Omissão governamental
Não bastassem as falhas originadas da União, o governo de Rondônia tem sido omisso com a porteira aberta do Complexo Penitenciário Ênio Pinheiro. Constantemente promotores tem denunciado a saída irregular de presos da Colônia Agrícola. Eles roubam e assaltam de dia e voltam à noite para dormir sob a proteção oficial. Sem conter este ralo, não há como o combate a criminalidade ser bem sucedido na capital.

De nada vão adiantar gastar fortunas em armas e viaturas, com tanto bandido solto, com tanto preso que sai de dia para voltar para suas celas impunes, à noite. Também chama a atenção para a necessidade de o município entrar nesta empreitada. Constitucionalmente, o Estado é o responsável pela questão da segurança. No entanto, os agravantes locais exigem também um esforço da Prefeitura de Porto Velho, que poderia se aliar a Lula e Cassol na luta contra o crime. A criação da Guarda Municipal, por exemplo, viria em boa hora.

Pistas clandestinas, estradas e rios facilitam o tráfico
O tráfico internacional das drogas se faz por intermédio do complexo coca-cocaína. As principais áreas produtoras de coca localizam-se na borda ocidental da grande bacia de drenagem do rio Amazonas , nos altos e médios vales de seus formadores e afluentes (Huallaga, Ucayali, Apurimac no Peru; Beni, S.Miguel na Bolívia; Putamayo, Caquetá, Uaupés na Colômbia).

Do ponto de vista da logística do tráfico de drogas, as grandes bacias hidrográficas sul-americanas, tanto a Amazônica como a do Paraguai-Paraná, tem se constituído numa importante alternativa para a criação de um sistema de transporte intermodal para o trânsito de droga. Apesar das dificuldades para a navegação fluvial, durante séculos essas bacias constituíam a principal via de comunicação no interior do continente sul-americano.

À rede fluvial se superpõe uma rede de transporte rodoviário e aéreo que permite uma razoável interligação Entre a costa do Pacífico e a costa atlântica. Não obstante as inúmeras discussões, tanto dos governos nacionais como do Banco Mundial, sobre a conveniência de construir ou não uma conexão rodoviária transcontinental, esta conexão, mesmo que precária, é um fato consumado, sem que saibamos até que ponto a economia da droga subsidiou, direta ou indiretamente, sua construção gradual.

Outro aspecto a mencionar é que tanto a rede de transporte aéreo como rodoviário na América do Sul não está restrita às rotas intercontinentais e aos aeroportos oficiais. Uma malha precária de caminhos e estradas secundárias, além de pistas de aterrissagem em fazendas e povoados, disseminados pelo interior do continente, demonstram que, ao lado de uma estrutura de rede formal, existe uma outra, que poderíamos denominar de “informal”.

Se é sabido que o tráfico de drogas aproveita-se de ambas, desconhece-se até que ponto as organizações ligadas ao tráfico são responsáveis pela manutenção e ampliação dessa malha secundária. Os principais corredores e rotas do tráfico entre os países andinos e o Brasil, e a rede virtual de pontos de trânsito e áreas de processamento foram plotados de modo a produzir um mapa que permitisse visualizar a dimensão ‘atlântica” da rede logística do comércio da droga.

(*) Do Gente de Opinião, parceiro da Agência Amazônia.

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