sábado, 28 de julho de 2007

Artigo: Nutrição e Pastagem: Fatores limitantes para a produção de leite em Rondônia


Oferecer uma alimentação adequada para o gado leiteiro é de fundamental importância tanto do ponto de vista nutricional quanto econômico. De maneira geral, a alimentação do rebanho representa de 40 a 60% ou até mais do custo total de produção. Por isso, a redução dos gastos com alimentação tem impacto direto no preço final do leite. O planejamento adequado do manejo nutricional do rebanho leiteiro evita gastos desnecessários e maximiza os lucros do produtor. Logo, alimentar eficientemente é importante para obter sucesso na atividade leiteira.

Como a pastagem é a fonte mais econômica de nutrientes para ruminantes, a tendência é que no Brasil a produção de bovinos se desenvolva cada vez mais nas regiões que apresentam condições climáticas favoráveis para o cultivo de pastagens de alta produtividade. Considerando as características do ecossistema amazônico que permitem o crescimento forrageiro durante praticamente todo o ano, essa região leva grande vantagem para a produção de leite de baixo custo. Isto justifica o fato do Estado de Rondônia ter despontado no período de 1995 e 2005, como um dos grandes produtores de leite no Brasil. Esse crescimento na produção de leite, no entanto, ocorreu em função da rápida expansão do rebanho bovino no Estado, o que gerou uma condição de superpastejo das áreas de pastagens.

Atualmente, acredita-se que pelo menos metade das áreas de pastagens cultivadas no Estado de Rondônia esteja degradada ou em algum grau de degradação, sendo a recuperação de áreas de pastagens degradas um dos mais sérios e urgentes problemas a ser resolvido devido a importância das mesmas para a manutenção da pecuária bovina no Estado.

Vários fatores estão relacionados com o processo de degradação das pastagens como o uso de espécies forrageiras não adaptadas, a má formação inicial, a falta de adubação de manutenção, o manejo inadequado da pastagem, o ataque de pragas e a ocorrência de doenças. Logo, tanto para evitar a degradação quanto para renovar/recuperar pastagens degradadas é preciso o entendimento das complexas interações entre clima, solo, animal e planta. Diante disso, equipes multidisciplinares precisam trabalhar em harmonia na busca desses conhecimentos, os quais devem nortear a tomada decisão sobre quais manejos e tecnologias devem ser mais adequadas para recuperação/renovação de pastagens, o que requer tempo e investimentos, os quais são tanto mais elevados quanto maior é o grau de degradação da área.

Além de problemas com as pastagens, ainda existe a expectativa da implantação da Instrução Normativa No. 51, a qual exigirá que as propriedades que praticam a atividade leiteira adotem manejos e tecnologias adequadas e eficientes na eliminação dos focos de contaminação do leite. Isso requer planejamentos e investimentos em infra-estrutura e mão-de-obra que acabam por favorecer os produtores que produzem leite dentro de uma escala de produção sustentável, principalmente do ponto de vista econômico. Dessa maneira, fica evidente que o sucesso das explorações leiteiras no Estado de Rondônia está na dependência da definição de sistemas que favoreçam a intensificação sem afetar os custos de produção. Isso só será possível a partir do momento que as unidades de produção passarem a utilizar sistemas mais sustentáveis respeitando as demandas nutricionais do rebanho e as características químico-bromatológicas dos alimentos disponíveis na propriedade.

O balanceamento adequado de uma dieta consiste na combinação de nutrientes que quando ingeridos pelo animal atendam as necessidades fisiológicas para manutenção, reprodução e produção. Isso requer informações sobre os requerimentos nutricionais do rebanho que variam de acordo com a raça, com a categoria e com o ambiente em que o animal se encontra.

Atualmente, no Brasil a nutrição de ruminantes é baseada em tabelas de exigências nutricionais elaboradas com base em animais de raças européias mantidas em clima temperado. O uso dessas tabelas auxilia no momento da elaboração de misturas concentradas e de minerais, porém é de se admitir que esse não seja o procedimento mais adequado. As diferenças entre bovinos das raças européias e zebuínas mantidas em climas temperados e tropicais, respectivamente, não são poucas. O ideal seria que cada região geográfica elaborasse sua própria tabela com base no clima, nas condições de manejo e nas raças de animais mais utilizadas. No entanto, experimentos para definição das exigências nutricionais demandam tempo e gastos elevados, principalmente para animais de grande porte e valor econômico, como os dos rebanhos leiteiros.

Além de se conhecer as demandas do animal por nutrientes, devem ser consideradas as características nutricionais dos alimentos disponíveis e quando a base da alimentação do rebanho são as pastagens, um fator preponderante para estimar a dieta dos animais é a determinação do potencial de consumo, o qual é considerado o parâmetro mais importante na avaliação de pastagens devido a sua alta correlação com a produção dos animais em pastejo já que é ele que define a ingestão dos nutrientes necessários ao atendimento das exigências de manutenção e produção do animal.

A estimativa do consumo em pastagem, no entanto, é bastante complexa devido à inter-relação solo-planta-animal-clima. Apesar dos grandes avanços científicos no campo da nutrição de ruminantes, ainda hoje, a modulação e o controle do apetite em ruminantes ainda não foi completamente elucidado.

E isso se torna mais complexo quando consideramos o consumo voluntário em condições de pastejo, o qual é influenciado por uma série de fatores inerentes ao animal, à planta, ao ambiente e ao manejo adotado, como por exemplo, a quantidade de forragem disponível, morfologia das plantas, valor nutricional, aceitabilidade sazonal, estado fisiológico, a sanidade do animal, as condições climáticas, entre outros. Por esse motivo, existem vários métodos para estimar o consumo de forragem em pastejo que podem ser diretos, indiretos ou baseados no comportamento animal, cada um com suas vantagens e desvantagens e que podem ser mais apropriados ou não para uma dada condição, não existindo uma técnica mais indicada e que forneça resultados com a acurácia e a precisão desejada.

Outro fator importante que deve ser considerado para a nutrição de bovinos é o conhecimento sobre as características nutricionais de alimentos alternativos de baixo custo para o planejamento de estratégias de suplementação principalmente no período de escassez de pasto. Esse planejamento no período seco também deve levar em consideração a estratégia de produção adotada na propriedade. Como as demandas nutricionais do rebanho variam de acordo com a categoria do animal e, no caso específico da vaca, de acordo com seu estágio de lactação, o planejamento alimentar deve considerar a distribuição dos nascimentos ao longo do ano. Nesse contexto, fica evidente a importância de fazer a escrituração zootécnica e o planejamento reprodutivo do rebanho para prever os períodos do ano em haverá a necessidade de maior ou menor disponibilidade de alimentos de qualidade nutricional na propriedade.

Em síntese, os recursos alimentares disponíveis são os principais fatores determinantes da sustentabilidade dos sistemas de produção. Logo, a nutrição e o manejo de pastagens para produção de leite no Estado de Rondônia têm papel primordial para a efetivação de sistemas eficientes do ponto de vista técnico e econômico. A maximização da conversão dos recursos alimentares em leite é uma alternativa para tornar a atividade mais competitiva em relação aos demais estados brasileiros. O uso racional dos alimentos, considerando os requerimentos dos animais e da propriedade, só é possível conhecendo-se detalhadamente as características nutricionais dos alimentos e a demanda pelo rebanho ao longo do ano. No entanto, falta o levantamento e a organização de informações regionais para elaboração de estratégias que minimizem os erros nas tomadas de decisão.

Ana Karina Dias Salman
Pesquisadora da Embrapa Rondônia
sac@cpafro.embrapa.br

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