Por Adriana Fonseca e Kátia Simões
Vilhena quer ser a Suíça brasileira
Quando os gaúchos Celito Bagattini, Ari Signor e Genuino Dalla deixaram a pacata Aratiba, no interior do Rio Grande do Sul, em direção a Rondônia, foram tachados de loucos. Na visão da família, estavam assinando o próprio atestado de óbito, já que chegar à Amazônia nos anos 70 era uma aventura e tanto. Depois de 15 dias chacoalhando na boléia de um caminhão, muita terra deixada para trás, desembarcaram enfim no destino, a então vila de Vilhena. “Foi a maior decepção da minha vida”, diz Signor. “A mata fechada abrigava meia dúzia de casas, o abastecimento de água para beber só acontecia uma vez na semana, a luz elétrica durava apenas algumas horas e o alimento era muito disputado porque poucos caixeiros-viajantes passavam por aquelas bandas.”
Como os três aventureiros gaúchos, muitos sulistas deixaram suas terras para desbravar a Amazônia, atraídos pelos benefícios oferecidos pelo governo, cujo lema nos anos 70 era “Integrar para não entregar”. Apesar do sacrifício, eles se deram bem. Os três filhos de Aratiba não só fincaram raízes e ajudaram a impregnar a cidade de um forte sotaque gaúcho, como ergueram o Grupo Pato Branco, que abriga um supermercado, uma loja de pneus e um posto de gasolina. Geram 300 empregos diretos e faturam R$ 44,5 milhões por ano.
O supermercado Pato Branco, com uma área de 2.500 m², é referência no Norte do Brasil e nada deixa a desejar às grandes cadeias do Sudeste, seja no layout, seja na oferta de produtos. É a 122ª loja em volume de vendas do país, somando anualmente R$ 21.000 por m², acima das redes Pão de Açúcar e Carrefour. Climatizada e totalmente informatizada, atende uma média de 3.500 clientes por dia. “Procuramos oferecer tudo o que o consumidor mais exigente procura”, diz Sandro Signor, 28 anos, segunda geração à frente do grupo. “São 1.304 fornecedores e 24.000 itens à disposição, de marcas regionais a vinhos importados”. A receita funciona, já que o supermercado é ponto de encontro da população local, sendo carinhosamente chamado de “o nosso shopping”.
De olho no crescimento de Vilhena, o Grupo já deu início à construção do primeiro shopping center da região, que deverá ser concluído em três anos. Serão 160 lojas ancoradas por um supermercado Pato Branco. “Embora conserve os ares e os costumes de uma típica cidade do interior, que permite às pessoas almoçarem em casa, Vilhena tem muito dinheiro em circulação e as ofertas de comércio e serviços estão aquém da demanda”, diz Sandro. E ele tem razão. Porta de entrada da Amazônia, distante 700 km de Porto Velho, Vilhena transformou-se no entreposto comercial de sete municípios vizinhos, é uma grande criadora de gado, produtora de soja e fornecedora de serviços para toda a região, atendendo cerca de 300.000 pessoas.
A inauguração, em 2009, da estrada de saída para o Oceano Pacífico também promete incrementar a economia, transformando Vilhena no principal corredor de exportação da região, num canal direto para o Peru e o Chile. Por fim, o município está mapeando suas riquezas naturais, a fim de fomentar o ecoturismo e desenvolver a atividade, ainda incipiente. A tendência é que sobrem empregos, mas apenas para a mão-de-obra qualificada. Incentivos para quem deseja aproveitar o novo surto de crescimento com novos negócios não faltam. A prefeitura oferece benefícios tributários, concessão de áreas para instalação das empresas, além de apoio técnico para a elaboração de projetos de viabilidade de novos negócios. “Não é difícil dizer que na próxima década Vilhena será a Suíça brasileira”, afirma Tonel.
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