domingo, 27 de setembro de 2009

Kit de TV no PC é só guia de canais

ROBINSON DOS SANTOS
colaboração para a Folha de S. Paulo

Até 3.000 canais de TV em seu computador. Essa é a promessa de pessoas e empresas que, pela internet, vendem kits de acesso à "TV digital". Todos têm algo em comum: garantem não ser preciso equipamento especial nem pagamento de assinatura e raramente oferecem número de telefone ou endereço para contato direto.

"Digital", no caso, não diz respeito à transmissão das TVs abertas que estreou no Brasil em dezembro de 2007, e que exige um sintonizador para funcionar. A tecnologia, no caso do kit, é outra: a imagem chega ao PC pela transmissão contínua de dados via internet --o chamado video streaming.

A Folha entrou em contato, por e-mail e telefone, com dez sites que oferecem o serviço. Apenas um respondeu à reportagem. De três que divulgam números de telefone, só um atendeu, mas o responsável pela empresa não pôde ser encontrado. Em outro site, o telefone (que não atende) é de São Paulo, mas o número do CNPJ, segundo a Receita Federal, é de uma empresa de fotocópias de Porto Velho (RO).

Improviso

Vender TV pela internet é um negócio popular. Uma busca por "3000 canais de TV no seu PC" no Google devolve mais de 150 mil ocorrências. O serviço é possível graças aos agregadores de TV --sites onde qualquer um pode criar um canal, retransmitindo pela internet o sinal de TV que chega à sua casa.

O preço do kit varia bastante. A Folha encontrou ofertas de R$ 19,90 a R$ 39,90. O produto, de fato, não é a permissão de acesso aos canais nem a suíte de softwares, e sim um "guia" de programação on-line.

Há muita improvisação. Para retransmitir a partida de futebol entre Brasil e Chile, um sujeito simplesmente colocou a própria webcam apontada para a TV --era possível enxergar a borda da tela, e a imagem tinha fantasmas e chuviscos. Em outras vezes, o que se vê é a repetição do sinal de um canal de TV a cabo, mas com uma faixa de anúncio, geralmente, do site que oferece a programação.

Fala o vendedor

Quem vende defende o sistema. "Imagine sua TV não pegar bem na região onde mora", pondera Claudinei Lopes de Moraes, 38, que vende o kit pela internet e respondeu às perguntas por e-mail. "Se você compra esse produto, tem vários canais para ver gratuitamente. Não existe violação de direitos, pois o sinal está na internet e qualquer um poderá usá-lo. Se fosse um tipo de pirataria eu não estaria comercializando", disse.

Moraes diz que a qualidade da imagem depende da conexão à internet. "O melhor é banda larga de no mínimo 300 Kbps", detalha. Mas deixa claro que não é responsável pelos canais, sinais ou programas. "Como os canais não são nossos, não existe 100% de garantia do serviço. Mas, pelo que é pago, vale a pena correr o risco."

É preciso cautela. "Se o fornecedor não quer aparecer, nossa orientação é que não se deve contratar este tipo de serviço", diz Diogo Moysés, pesquisador em telecomunicações do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor). "Esses sites criam uma figura de intermediário [de acesso à TV], mas os operadores desses canais não são parceiros. Sem saber quem é a figura jurídica que está do outro lado, o consumidor não terá como reclamar."

Solução gratuita

Reprodução
Tela mostra recepção de atração do canal Cartoon Network como uso do programa Megacubo, cujo download pode ser feito de graça
Tela mostra recepção de atração do canal Cartoon Network como uso do programa Megacubo, cujo download pode ser feito de graça

Nem é preciso pagar para se ter um serviço assim. Há pelo menos um programa, o Megacubo, que pode ser baixado de graça na internet em sites como Sound Forge e o Superdownloads, e que oferece um catálogo com canais de TV e emissoras de rádio na web. Basta ter uma boa conexão à internet.

O programa instalador do Megacubo está na versão 7.1.1 e tem quase 9 Mbytes. Os termos da instalação explicam do que trata o software -pela definição do autor, é "um catálogo de links de transmissões via internet", que são "geradas por terceiros"; o desenvolvedor "não assume responsabilidade" pela legalidade das transmissões.

A qualidade da imagem sempre deixa a desejar. A resolução da imagem é baixa --muitas das transmissões foram concebidas para tela de celular--, e a fluidez depende não apenas da largura de banda da sua conexão doméstica mas também do número de usuários ligados num mesmo canal.

Ainda há o risco de o canal exigir senha (como ocorreu quando tentávamos assistir ao canal Globonews) ou de simplesmente estar fora do ar. Dada a quantidade de canais marcados em vermelho na lista de opções do Megacubo, a situação parece comum.

Americano pioneiro

Os agregadores de TV tornaram-se populares com o surgimento, em outubro de 2006, do Justin.tv, site americano que permite transmitir e compartilhar vídeo on-line. O site afirma reunir cerca de 428 mil canais; recebe 41 milhões de visitantes únicos por mês.

Em abril deste ano, o Justin.tv anunciou a integração com redes sociais de sucesso, como Twitter e Facebook.
Pirataria é também uma preocupação do serviço, que anunciou em agosto a contratação da Vobile, uma empresa especializada na filtragem de imagens protegidas por direito autoral. Inicialmente, a ideia é varrer o conteúdo gravado, mas o alvo principal são as transmissões ao vivo, principalmente as de eventos esportivos.

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