ROBINSON DOS SANTOS
colaboração para a Folha de S. Paulo
Até 3.000 canais de TV em seu computador. Essa é a promessa de pessoas e empresas que, pela internet, vendem kits de acesso à "TV digital". Todos têm algo em comum: garantem não ser preciso equipamento especial nem pagamento de assinatura e raramente oferecem número de telefone ou endereço para contato direto.
"Digital", no caso, não diz respeito à transmissão das TVs abertas que estreou no Brasil em dezembro de 2007, e que exige um sintonizador para funcionar. A tecnologia, no caso do kit, é outra: a imagem chega ao PC pela transmissão contínua de dados via internet --o chamado video streaming.
A Folha entrou em contato, por e-mail e telefone, com dez sites que oferecem o serviço. Apenas um respondeu à reportagem. De três que divulgam números de telefone, só um atendeu, mas o responsável pela empresa não pôde ser encontrado. Em outro site, o telefone (que não atende) é de São Paulo, mas o número do CNPJ, segundo a Receita Federal, é de uma empresa de fotocópias de Porto Velho (RO).
Improviso
Vender TV pela internet é um negócio popular. Uma busca por "3000 canais de TV no seu PC" no Google devolve mais de 150 mil ocorrências. O serviço é possível graças aos agregadores de TV --sites onde qualquer um pode criar um canal, retransmitindo pela internet o sinal de TV que chega à sua casa.
O preço do kit varia bastante. A Folha encontrou ofertas de R$ 19,90 a R$ 39,90. O produto, de fato, não é a permissão de acesso aos canais nem a suíte de softwares, e sim um "guia" de programação on-line.
Há muita improvisação. Para retransmitir a partida de futebol entre Brasil e Chile, um sujeito simplesmente colocou a própria webcam apontada para a TV --era possível enxergar a borda da tela, e a imagem tinha fantasmas e chuviscos. Em outras vezes, o que se vê é a repetição do sinal de um canal de TV a cabo, mas com uma faixa de anúncio, geralmente, do site que oferece a programação.
Fala o vendedor
Quem vende defende o sistema. "Imagine sua TV não pegar bem na região onde mora", pondera Claudinei Lopes de Moraes, 38, que vende o kit pela internet e respondeu às perguntas por e-mail. "Se você compra esse produto, tem vários canais para ver gratuitamente. Não existe violação de direitos, pois o sinal está na internet e qualquer um poderá usá-lo. Se fosse um tipo de pirataria eu não estaria comercializando", disse.
Moraes diz que a qualidade da imagem depende da conexão à internet. "O melhor é banda larga de no mínimo 300 Kbps", detalha. Mas deixa claro que não é responsável pelos canais, sinais ou programas. "Como os canais não são nossos, não existe 100% de garantia do serviço. Mas, pelo que é pago, vale a pena correr o risco."
É preciso cautela. "Se o fornecedor não quer aparecer, nossa orientação é que não se deve contratar este tipo de serviço", diz Diogo Moysés, pesquisador em telecomunicações do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor). "Esses sites criam uma figura de intermediário [de acesso à TV], mas os operadores desses canais não são parceiros. Sem saber quem é a figura jurídica que está do outro lado, o consumidor não terá como reclamar."
Solução gratuita
Reprodução |
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Tela mostra recepção de atração do canal Cartoon Network como uso do programa Megacubo, cujo download pode ser feito de graça |
Nem é preciso pagar para se ter um serviço assim. Há pelo menos um programa, o Megacubo, que pode ser baixado de graça na internet em sites como Sound Forge e o Superdownloads, e que oferece um catálogo com canais de TV e emissoras de rádio na web. Basta ter uma boa conexão à internet.
O programa instalador do Megacubo está na versão 7.1.1 e tem quase 9 Mbytes. Os termos da instalação explicam do que trata o software -pela definição do autor, é "um catálogo de links de transmissões via internet", que são "geradas por terceiros"; o desenvolvedor "não assume responsabilidade" pela legalidade das transmissões.
A qualidade da imagem sempre deixa a desejar. A resolução da imagem é baixa --muitas das transmissões foram concebidas para tela de celular--, e a fluidez depende não apenas da largura de banda da sua conexão doméstica mas também do número de usuários ligados num mesmo canal.
Ainda há o risco de o canal exigir senha (como ocorreu quando tentávamos assistir ao canal Globonews) ou de simplesmente estar fora do ar. Dada a quantidade de canais marcados em vermelho na lista de opções do Megacubo, a situação parece comum.
Americano pioneiro
Os agregadores de TV tornaram-se populares com o surgimento, em outubro de 2006, do Justin.tv, site americano que permite transmitir e compartilhar vídeo on-line. O site afirma reunir cerca de 428 mil canais; recebe 41 milhões de visitantes únicos por mês.
Em abril deste ano, o Justin.tv anunciou a integração com redes sociais de sucesso, como Twitter e Facebook.
Pirataria é também uma preocupação do serviço, que anunciou em agosto a contratação da Vobile, uma empresa especializada na filtragem de imagens protegidas por direito autoral. Inicialmente, a ideia é varrer o conteúdo gravado, mas o alvo principal são as transmissões ao vivo, principalmente as de eventos esportivos.
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