terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cérebro masculino vê mulher de biquíni como objeto, aponta estudo

EDUARDO GERAQUE
enviado especial da Folha de S.Paulo a Chicago

Os homens podem não dizer isso explicitamente, mas há ocasiões em que todos tendem a pensar nas mulheres como objetos --principalmente quando elas estão de biquíni e não mostram o rosto. É isso o que acaba de mostrar um experimento realizado nos Estados Unidos com 21 homens heterossexuais estudantes de pós-graduação, apresentado em Chicago, na reunião anual da AAAS (Sociedade Americana para o Avanço da Ciência).

Talvez seja esse o efeito que explica sucesso que dançarinas mascaradas --como as personagens Tiazinha e Feiticeira-- costumam ter na televisão brasileira. O experimento usou máquinas de ressonância magnética para mostrar que os circuitos cerebrais ativados nos homens durante a observação de um corpo feminino sensual desprovido de identidade são os mesmos que os permitem de reconhecer uma ferramenta, um objeto inanimado.


SXC
Pesquisadores usaram máquinas de ressonância magnética para medir atividade cerebral
Pesquisadores usaram máquinas de ressonância magnética para medir atividade cerebral

"Tecnicamente, podemos usar uma espécie de eufemismo neurológico e dizer que o homem não tem essa atitude de uma forma premeditada. É algo que ele não racionaliza", afirma Susan Fiske, professora de Psicologia da Universidade de Princeton, uma das mentoras do experimento. Ela mostrou que o córtex pré-motor dos homens --uma das partes do cérebro mais envolvidas no reconhecimento-- foi a área cerebral mais ativada nos voluntários que observavam fotografias de um colo feminino.

Essa parte do cérebro também é acionada quando é feita uma interpretação mecânica de uma imagem -em oposição a interpretações sociais.

Questionada pela Folha sobre o possível viés cultural que o estudo possa ter --só americanos participaram do experimento-- Fiske disse não crer que o resultado mudaria se o experimento fosse feito em países, como o Brasil, onde mulheres de biquíni são comuns.

Fiske selecionou seus voluntários após aplicar um questionário a todos. Eles também precisaram passar por análises neurológicas. Só então os participantes puderam ser submetidos ao teste dentro de uma máquina de ressonância magnética funcional, que registra as atividades cerebrais.

Praia ou escritório

No total do teste, cada participante ficou diante de 160 imagens. Elas eram de mulheres e de homens. Nos dois casos, foram apresentadas durante o experimento fotos com roupas de trabalho e também em trajes de banho.

Imagens de rostos humanos, para medir a capacidade de reconhecimento de cada participante do teste, também foram exibidas.

Basicamente, a intenção era medir o grau de bem-estar dos voluntários após terem visto imagens de mulheres e de homens, tanto com o corpo exposto quanto coberto com roupas de trabalho. As imagens não eram pornográficas nem eróticas, disse Fiske. Os registros foram tabulados por meio de análises estatísticas de uso corrente por psicólogos.

De acordo com a pesquisadora americana, os seus resultados apresentados agora têm algumas implicações práticas. "Um dos desdobramentos pode ser o fato de que um patrão, por exemplo, pode beneficiar certas companheiras de trabalho em detrimento dos demais funcionários da empresa, dependendo de como ele idealiza aquele corpo", diz a psicóloga.

Susan Fiske afirma que seus resultados também indicam que atitudes machistas de intimidação estão relacionadas com uma menor ativação de uma área do cérebro estudada por ela e envolvida na racionalização do pensamento, o córtex pré-frontal médio. "O sexismo hostil prediz uma menor ativação do córtex pré-frontal médio", afirma a pesquisadora.

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