quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Mensaleiros aproveitam "memória curta" e fazem planos para as eleições de 2010

Mensaleiros aproveitam "memória curta" e fazem planos para as eleições de 2010

Levantamento do R7 mostra que a maioria dos deputados que se reelegeu em 2006 após o escândalo terá caminho mais livre no ano que vem porque o caso é ''fato esquecido''

Andréia Sadi, do R7

O mensalão - esquema de pagamento de propina a parlamentares para votarem a favor do governo - estourou em 2005, mas os personagens envolvidos no maior escândalo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca deixaram a cena política nos anos que se seguiram nem têm planos de sair nas próximas eleições de 2010. Levantamento feito pelo R7 na lista de réus do caso [aqueles que respondem a processo após o Supremo Tribunal Federal aceitar denúncia] mostra que muitos vão tentar se reeleger como deputado federal e ainda figuram nos quadros dos seus partidos. O cientista político da Ufscar [Universidade Federal de São Carlos] Marco Antonio Villa acredita que o mensalão será um fato esquecido em 2010, quase uma "lembrança longínqua na história" e que o espaço que estes políticos ainda têm se deve à falta de "memória política" dos brasileiros e do silêncio da oposição.

- Os mais politizados podem até se lembrar [nas eleições de 2010] mas essa lembrança do mensalão deveria ser feita pela oposição, que já abdicaram há muito tempo do seu papel. Eles conseguem passar três anos no seu mandato quase na sombra, são quase deputados-fantasma, pode reparar, e agora em 2010 voltam a ser protagonistas, jogam com o tempo a favor.

Em 2006, oito deputados envolvidos no caso conseguiram se reeleger para uma vaga na Câmara mesmo com o escândalo "fresco" do ano anterior, como João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Vadão Gomes (PP-SP), Sandro Mabel (PL-GO), Pedro Henry (PP-MT), Paulo Rocha (PT-PA), Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e José Genoino (PT-SP).

Destes, quase todos vão tentar a reeleição em 2010. Paulo Rocha vai tentar uma vaga no Senado pelo Pará e apenas o gabinete de Pedro Henry disse que o deputado "ainda não falou sobre o assunto". Genoíno concorda que é muito cedo para avaliar uma posição, mas que a princípio quer continuar com a sua experiência ''pleiteando a vaga na Câmara''. Já o ex-deputado petista Professor Luizinho - que não conseguiu se reeleger em 2006 - disse que não tem nenhuma vontade de se candidatar, mas que vai continuar ''militando e colaborando com o PT internamente''.

- Morrerei no PT, nunca passou pela cabeça sair do partido e nunca passará.

Mesmo sem mandato, José Janene e Pedro Henry fazem parte da Executiva Nacional do PP, eleita em abril para os dois próximos anos e ocupam a vaga de primeiro tesoureiro do PP e 5º vice-presidente, respectivamente. Janene era tesoureiro do partido na época da crise e Henry já era deputado federal.

O deputado cassado Pedro Corrêa também figura como membro da Executiva Nacional e a assessoria da sua filha, a deputada federal e vice de Paulo Maluf na disputa de 2008, Aline Corrêa, disse que "não é de seu conhecimento" qualquer intenção do ex-deputado em 2010. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência do governo, Luiz Gushiken, não foi localizado pela reportagem e o seu advogado disse que "ele está trabalhando" mas não disse onde. Roberto Jefferson, um dos principais personsagens do mensalão e ex-deputado cassado, preside o PTB.

Outros mensaleiros se afastaram ou foram afastados do mandato, mas participam da vida política por meio da internet, como o caso do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Dirceu, ex-homem forte do governo Lula, foi um dos três deputados que tiveram o mandato cassado e por isso não pode concorrer a nenhum cargo público por oito anos, mas fala com o eleitorado do PT - que chama de "nosso partido''- pelo "blog do Zé Dirceu".

O ex-tesoureiro Delúbio Soares foi expulso do PT no auge da crise e cogitou a filiação a algum partido até o último sábado - prazo limite para candidatos a 2010 entrarem em alguma legenda - mas não aderiu a nenhuma legenda e ficou de fora da disputa de 2010. No seu blog "Companheiro Delubio", ele postou uma nota entitulada "Minha decisão" em que agradece ''a todas as lideranças dos partidos que me convidaram à filiar-me em seus quadros e disputar um mandato por Goiás''. Lideranças do PT disseram que Delúbio retirou o seu pedido de refiliação ao partido para não "causar constrangimento" a outros dirigentes e que a decisão de aceitar Delúbio de volta teria de ser "consensual". O R7 tentou contato por e-mail e telefone, mas não obteve retorno.

Colaborou Wanderley Preite Sobrinho, do R7

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