quarta-feira, 9 de julho de 2008

Advogados visitam Dantas na carceragem da PF em São Paulo e levam alimentos

O banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, preso ontem durante a Operação Satiagraha da Polícia Federal, recebeu na manhã desta quarta-feira a visita de seis advogados que atuam na sua defesa. Eles levaram alimentos, água e objetos de higiene pessoal e criticaram as instalações da carceragem da PF em São Paulo.
"As condições de visitação são as mais inadequadas possíveis e imagináveis e que não se adequam aos rigores da lei", afirmou Nélio Machado.
O advogado disse que também ficou incomodado com uma câmera que filmava não sabia "exatamente o quê".
"Há um parlatório, fala-se por telefone e não se pode manusear nenhum documento. Há uma câmera filmando não sei exatamente o quê e não tenho nenhuma segurança com relação à privacidade da minha conversa", disse.
Machado afirmou que espera que o STF (Supremo Tribunal Federal) se posicione ainda hoje sobre o habeas corpus apresentado ontem em favor de Dantas. Como o Supremo está em recesso, caberá ao próprio presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, decidir se concederá ou não o habeas corpus ao banqueiro.
O ministro participou de duas cerimônias públicas hoje em Brasília --uma no Congresso Nacional e outra no próprio STF-- mas em nenhuma delas quis comentar o assunto. Cercado por jornalistas que insistiam em questionar a operação, o ministro manteve-se em silêncio.
Além de Dantas, também estão na carceragem da PF o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o investidor Naji Nahas e outras 14 pessoas presas ontem na operação. Dantas, Nahas e Pitta estão em celas separadas.
Advogada Ruth Stefanelli Wagner Vallejo, que defende Pitta, também visitou seu cliente hoje pela manhã mas não falou com a imprensa ao deixar o prédio da PF. Antes da visita, a advogada disse que desconhecia as acusações contra Pitta.
Segundo a advogada, Pitta não tem nenhum relação com Dantas mas admitiu que o ex-prefeito é amigo de Naji Nahas. A advogada disse também que vai esperar que Pitta seja ouvido pela PF para depois entrar com algum recurso na Justiça.
"Não pedimos nada ainda. É uma prisão temporária de cinco dias. Nós esperamos que ele seja ouvido o mais breve possível, provavelmente amanhã, e a gente fará o pedido [de habeas corpus] tão logo seja ouvido para que seja liberado", disse Vallejo.
Operação
A Operação Satiagraha investiga suposta prática dos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas, formação de quadrilha e tráfico de influência para a obtenção de informações privilegiadas em operações financeiras.
A PF já prendeu 17 pessoas, de 24 mandados de prisão expedidos, além de 56 de busca e apreensão. Também foram apreendidos documentos, computadores, veículos e dinheiro em espécie que ainda está sendo contabilizado. Somente em um local foram apreendidos cerca de R$ 1,1 milhão.
Investigações
Segundo a PF, as investigações começaram há quatro anos, com o desdobramento das apurações feitas a partir de documentos relacionados com o caso mensalão. A partir de documentos enviados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 6ª Vara Criminal Federal.
Na apuração foram identificadas pessoas e empresas supostamente beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos. Com base nas informações e em documentos colhidos em outras investigações da Polícia Federal, os policiais apuraram a existência de uma organização criminosa, supostamente comandada por Daniel Dantas, envolvida com a prática de diversos crimes.
Para a prática dos delitos, o grupo teria possuído empresas de fachada. As investigações ainda descobriram que havia uma segunda organização, formada por empresários e doleiros que supostamente atuavam no mercado financeiro para lavagem de dinheiro. O segundo grupo seria comandado pelo investidor Naji Nahas.
Além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização teria atuado no mercado paralelo de moedas estrangeiras. Há indícios inclusive do recebimento de informações privilegiadas sobre a taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano).
Os presos na operação devem ser indiciados sob as acusações de lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Eles serão transferidos para São Paulo, onde permanecerão na carceragem da Superintendência Regional da PF.

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