terça-feira, 4 de março de 2008

Venezuela fecha fronteira com Colômbia, que acusa Farc de tentar fazer "bomba suja"

da Efe, em Caracasda Folha Online
O ministro venezuelano de Agricultura e Terras, Elías Jaua Milano, anunciou hoje que o governo da Venezuela ordenou o fechamento da fronteira com a Colômbia, em uma situação que já registra movimentos de tropas e a expulsão dos funcionários da embaixada colombiana.
"Tomamos algumas medidas, como o fechamento da fronteira", disse Milano à emissora estatal venezuelana VTV.
O anúncio acontece pouco depois de o vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos Calderón, denunciar na Conferência de Desarmamento da ONU (Organização das Nações Unidas) a intenção das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) de obter material radioativo para a fabricação de uma "bomba suja" --artefato explosivo convencional misturado com componentes nucleares (ou ainda químicos ou biológicos).
Santos Calderón disse que, em dois computadores apreendidos no fim de semana passado e que pertenciam a Raúl Reyes, o "número dois" das Farc morto no último sábado, foi encontrada informação sobre a possível "negociação de material radioativo, base primária para gerar armas sujas de destruição e terrorismo".
"Esta informação indica que, com base no poder econômico oferecido pelo narcotráfico, os grupos terroristas são uma ameaça muito grave não só para nosso país, mas para toda a região andina e latino-americana", acrescentou o vice-presidente.
Santos Calderón disse que a informação ainda está sendo analisada, mas mostra o perigo que as Farc representam.
"Em meu país, temas como o tráfico de armas, munição e explosivos e o acesso de grupos terroristas a diferentes tipos de armas não estão no âmbito acadêmico. Fazem parte de nossa realidade cotidiana e são uma séria ameaça contra nossa população."
Raúl Reyes foi morto no sábado passado em uma operação realizada pelas forças militares da Colômbia em território equatoriano, na qual também morreram mais 20 guerrilheiros.
Tensão
O Equador rompeu relações diplomáticas com a Colômbia e a Venezuela expulsou o embaixador colombiano. Ao mesmo tempo, os países da América Latina se mobilizam para conter a crise diplomática, iniciada após um ataque colombiano contra a guerrilha Farc (Forças Armadas revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano, ocorrido no ultimo sábado (1º), e que levou à morte Raúl Reyes, um dos principais líderes da guerrilha, além de outros 16 membros das Farc.
As decisões de Caracas e Quito de romper relações diplomáticas com a Colômbia foram adotadas depois que Bogotá revelou a suposta existência de acordos das Farc com os governos de Equador e Venezuela.
20.ago.2003/João Wainer/Folha Imagem
Raúl Reyes, um dos pricipais líderes das Farc, morto no sábado pela Colômbia
Bogotá informou que as revelações serão apresentadas à OEA (Organização dos Estados Americanos), cujo conselho permanente se reunirá nesta terça-feira.
O presidente do Equador, Rafael Correa, que iniciou uma viagem por vários países latino-americanos para tentar obter apoio em meio à crise, pediu aos "governos da região que formem fileiras frente ao "nefasto e traidor" ato da Colômbia contra as Farc em seu território. Amanhã, ele estará no Brasil para encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Libertação de Betancourt
Correa afirmou nesta segunda-feira que o ataque colombiano contra um acampamento das Farc no Equador frustrou a libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt e de outros dez reféns da guerrilha, que deveria ocorrer em março no território equatoriano.
Os seis reféns [todos ex-congressistas colombianos] libertados pelas Farc recentemente relataram que a franco-colombiana Betancourt se encontra muito mal de saúde e sofre de hepatite B. Em carta enviada à família, no ano passado, Betancourt deu sinais de que está à beira do desespero, dizia que perdeu o apetite, que não come, e que seu cabelo caía "em grande quantidade". "Aqui vivemos mortos", disse na carta.
AP
Foto de Betancourt divulgada pelas Farc; saúde debilitada preocupa familiares
"Lamento informar que as negociações estavam bastante avançadas para libertar no Equador 12 reféns, entre eles (a ex-candidata presidencial) Ingrid Betancourt" e os três norte-americanos", disse Correa em uma mensagem à Nação, na qual justificou a ruptura das relações com Bogotá.
Bogotá reagiu imediatamente e rebateu a versão do presidente equatoriano e afirmou que as conversas do governo deste país com as Farc "têm mais as características de tráfico de seqüestrados com fins políticos".
Ontem, a França admitiu que Reyes era o contato do governo francês nas negociações da libertação de Betancourt.
Documentos
Segundo a Colômbia, os acordos entre Caracas e Quito com as Farc são evidenciados em documentos e fotografias encontrados em três computadores apreendidos no acampamento onde morreu Reyes, situado no Equador a 1,8 km da fronteira bilateral.
O ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos, disse que o país não enviará mais forças à fronteira e disse que as informações encontradas nos computadores eram "preocupantes".
Ele disse ainda que os contatos entre Reyes e o ministro da Segurança equatoriano, Gustavo Larrea, que para ele provam "uma convivência, uma espécie de associação do governo do Equador com a guerrilha".
Larrea admitiu que se reuniu em janeiro com Reyes fora do Equador e da Colômbia para tentar obter a libertação dos reféns das Farc.
Venezuela
A respeito da Venezuela, o chefe da polícia colombiana, general Oscar Naranjo, revelou que um dos arquivos encontrados afirma que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, entregou US$ 300 milhões às Farc.
"Esta nota traz implícita uma proximidade e torna evidente uma aliança em termos armados das Farc e o governo da Venezuela", disse.
Efe/AP
(Da esq. para a dir.) Os presidentes da Venezuela (Hugo Chávez), do Equador (Rafael Correa) e da Colômbia (Álvaro Uribe)
O ministro do Interior da Venezuela, Ramón Rodríguez Chacín, rebateu as acusações e disse "são falácias absolutas".
Ele disse ainda que a Colômbia manipula os dados do computador de Reyes para justificar uma "guerra preventiva" contra a Venezuela e acusou o chefe da polícia colombiana de ligações com o narcotráfico.
A preocupação com a crise se espalhou por todo o continente e vários países, incluindo o Brasil, defendem a via diplomática. O governo dos Estados Unidos respaldou as ações da Colômbia contra as Farc.

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