Diário a partir de Brasília, até Assunção
Sucuri ao lado do Caiaque
Aqueles que estão nela considero meus amigos e por isto quero dividir com voces as emoções de uma aventura pelo interior de nossa America.Como já não estou mais 0 km e cheio de fraturas, hernia de disco e pedras no rim não posso garantir que vou longe, pois essa aventura pode durar apenas um dia ou seis meses.
O plano é sair de Brasília pelo rio S. Bartolomeu, que não tenho a mínima idéia de como é, se tem corredeiras, cachoeiras, cobras ou lagartos.Para complicar, seguirei com um caiaque de 5,20 m, imprópio para corredeiras, aliado ao fato de mais uns 40 kg de carga, o que vai impossibilitar o transporte por terra, então terei que me virar fazendo rapel e cruzando os obstáculos como puder à medida que surgirem.Bueno, eu só queria dividir as alegrias e as tristezas com vocês.Dia 16/06 estarei seguindo 1700km até Brasilia com o Aldo e talvez com o Robson e dali inicia mais uma aventura entre tantas outras.Acho que nosso destino já vem escrito e por isto o nome do barco ficou sendo MAKTUB (já estava escrito, em árabe).Serão 3.555 km até B.Aires pela bacia do R. Paraná e Prata; dali mais de 1.500 km pelos mares do sul até Porto Alegre e dali para Florianopolis, um total de mais de 5.000 km.Tem tudo para dar errado, as cachoeiras, corredeiras, represas, doenças, cobras venenosas, sucuris, jacarés e piranhas, além de traficantes e ladrões.Depois de tudo isto terei o mar gelado do sul e as ondas onde terei meu batismo pois nunca naveguei pelo mar com este caiaque argentino, dos meus "irmãos" de Rosário.Acontece que as pessoas idealizam sonhos, correm atrás de horizontes e se tornam infelizes se abdicam das coisas sem tentar.Eu sou apenas mais um, se não der, paciência!Bueno, se eu estiver realizando o sonho de alguém e conseguir transmitir um pouco de luz no dia a dia dos que ficam, terá valido a pena.Um abraço forte a todos e espero que voltemos a nos rever além de terras e através do sempre.Hasta la vista.
Olá amigos, estou em Pires do Rio, Goias. Parece que passou um mes, estou cheio de cortes, contusôes, o caiaque está todo trincado, arranhado, de leme partido mas eu ainda nâo entreguei os pontos. Como se diz lá no Rio Grande " não está morto quem peleia ". Eu quase morri por tres vezes, a primeira quando quase cai em uma cachoeira depois de uma curva de rio, a segunda quando o caiaque, ao descer em uma forte corredeira não fez a curva e sumiu por baixo de uma rocha comigo junto.Tu fica preso nele de cabeça para baixo com a violenta turbulência desorientando tentando achar a alça que te libera do caiaque, descobrir para que lado fica a superfície e tirar tu e o caiaque das pedras.A pior foi a terceira quando entrei em um longo canyon de uns quatro metros de largura e o caiaque entrou de lado nas rochas negras e virou.Puxei a alça, ejetei do caiaque e fui sugado pelo redemoinho e fiquei girando como um louco com colete e tudo sem saber para que lado ficava a superfície. Os pulmões pareciam estourar e só pensava:- Vou morrer, vou morrer!Quando tudo parecia perdido fui levado para a superfície onde respirei e mergulhava de novo quando meu braço esquerdo encontrou o caiaque enquanto o redemoinho nos levava de volta para o lugar onde afundara.Chutei as rochas com força para sair dali e depois fomos arrastados até chegar em um remanso.Teve outra corredeira em que fui rolando nas rochas virando um monte e batendo nas pedras por cerca de trezentos metros.O rio São Bartolomeu quase me matou por tres vezes mas o máximo que ele fez foi roubar minha auto confiança.É um rio que ainda tem sucuris, mas não vi nenhuma. Apenas capivaras, ariranhas e tucanos, entre outros bichos.Estou com um arsenal de punhais nos antebraços, facas e facões na coberta do caiaque. Sucuri nenhuma vai me pegar sem levar o troco.Passei por inúmeras situações de perigo real, não tem como recuar.Aprendi a pedir a Deus para me ajudar a cada corredeira mais violenta que tenho que enfrentar.Passei por muitas balsas que retiram água do rio para os Garimpos.O rio São Bartolomeu foi uma corredeira só, muitos perigos, na Garganta do Diabo dei de cara numa rocha e jogou a cabeça para trás, acho que ali foi o início do problema pelo qual vou fazer uma radiografia daqui a pouco no hospital da cidade.Estou detonado mas não estou morto, como diziam no filme Gladiador:- " Ainda não é a hora"! Depois de seis dias cheguei no Rio Corumbá, logo ao lado de um imenso viaduto de trem.Saldo até aqui: diveras escoriações nas mãos, "ovos" nas canelas, panturrilha da perna direita e nas costas.Caiaque: várias trincas no casco, leme despedaçado, inúmeros riscos nas rochas mas ele é valente acima de tudo, até agora não está fazendo água.Ele é um caiaque oceânico, de 5,20 m de comprimento, difícilimo de manobrar em corredeiras estreitas e curvas mas o nosso destino final é o mar e é para lá o nosso caminho.Eu sabia que seria difícil no começo, mas está duro demais, espero sobreviver até o mar.Tive que aprender na hora a manobrar pela primeira vez em corredeires, pela primeira vez utilizando o caiaque com seus 50 kg de carga e sem conhecer absolutamente nada sobre os rios por onde vou passar, apenas dirigi o carro por 2000 km com meu amigo Aldo, achamos o local para iniciar durante a noite colocamos o barco n´água e parti sem saber o que me esperava. Seguindo pelo rio Corumbá o rio começou a serpentear entre milhares de rochas negras, com corredeiras mais fáceis a princípio.A coisa foi piorando, o rio estreitando até chegar numa pavorosa garganta de apenas quatro metros de largura.O meu instinto de auto preservação, pavor e medo chegou no limite, eu sabia que entrando ali o caiaque seria jogado de lado nas rochas, viraria e o resto...Foi aí que comecei a falar com Deus, eu não tinha como voltar e não havia ninguém para me ajudar.Quando decidi que deveria seguir em frente, entrar naquele caiaque e me dirigir para a garganta vendo a violenta turbulência se aproximando foi a coisa mais difícil do mundo.Aquilo é como a vida, os problemas nos esperam e não adianta querer contorná-los, para superá-los, devemos enfrentar de frente o que vier.O caiaque virou, puxei a alça, ejetei mas permaneci agarrado ao barco.Se ele afunda, afundo junto, mas nunca mais vou abandoná-lo.Não morri e assim como esta passei muitas outras mais. Na verdade, dizer que passei por centenas de corredeiras taslvez seja pouco.Dois dias depois parei para pedir informações e quando fui passar por outra corredeira alguma coisa deslocou na coluna vertebral e fiquei quase paralisado de dor nas costas. Parecia haver uma faca cravada entre as vértebras.Fiquei dois dias acampado na beira do rio, tomando anti inflamatório até que consegui carona num pequeno vagão de reparo de linha férrea que segue paralela ao rio.Cheguei ontem a noite e daqui vou no hospital fazer o rx e conversar com o médico.Em princípio vou continuar, a não ser por impedimento médico.Eu passei por muita coisa, limite fisico e moral mas se depender de mim vou em frente. Ainda tem cachoeiras e corredeiras pela frente, mas se esse rios pensam ver um soldado se curvar, o máximo que ouvirão é um guerreiro suspirar.Tirando fora os "probleminhas" com corredeiras e cachoeiras o que fica são as imagens de um por de sol por detrás da mata, do vôo dos tucanos, do chiado das ariranhas e do latido das capivaras;Para tudo eu digo:
Sucuri
Lá longe, onde brilha o sol,Estão minhas supremas esperanças.Talvez não as alcance, mas posso ver sua beleza,Crer naquilo que elas representamE tratar de seguir o caminho que me ensinam.
A vida chegou até minhas mãos por um breve instante,Como uma tocha esplêndidaE eu quero fazê-la arder com o maior brilho possívelAntes de entregár-laÀs próximas gerações.
É isso aí meus amigos, vou em frente nesta batalha e a luz pode se apagar a qualquer instante, mas que enquanto durar ela brilhe com nunca mais!Um baita abraço do amigo André.
Depois de ficar o dia todo no Hospital ficou constatado pelas radiografias que não houve nenhum deslocamento de vértebra, deve ter sido uma forte distensão. O dr. Renato receitou anti-inflamatório mas isto eu já vinha tomando.Decidi que partiria no dia seguinte, mesmo com dores, pois o medo maior era ter deslocado algo.A dor eu posso suportar.É o décimo segundo dia de viagem, estou nervoso, vou enfrentar corredeiras de novo sem saber se consigo superar a dor. Dormi dois dias na segurança de uma casa e agora me vejo de frente para o rio Corumbá sem saber o que vai ser .Me despeço dos amigos que carregaram o caiaque para mim até a beira do rio, coloco o colete as luvas, engulo em seco e me despeço dos amigos.Pois é seu André, agora é só tu e Deus de novo.E lá se vai nosso herói estropiado: perseguindo horizontes ou moinhos de vento?Logo se aproxima a primeira corredeira, o barulho alto da água vai se aproximando, tu tentas ver por onde é o melhor caminho, mas só percebe nos instantes finais. Tento desviar das rochas mas não dá para fazer força e acabo raspando o fundo.-Merda!Acho que estou ficando bom, pois já estou reinando.Aprendi a não lutar com o rio, deixo o caiaque escolher por onde ir, ele segue por onde a correnteza é mais forte, mas o meu instinto de auto preservação quer evitar estes locais.Antes de chegar nas pedras o rio forma um "v" invertido, é ali onde devo colocar a proa, por ali passa sem bater nas rochas e, ao longo do dia, assim vou seguindo.Tu passas uma corredeira e já começa a ouvir o som da próxima, é agoniante!Passei por três pontes que ligam Pires do Rio e vou seguindo.As corredeiras estão cada vez piores, é uma colada na outra, está difícil de escolher o caminho certo, por enquanto vou me dando bem. Só dá uma fisgada mais forte quando forço um pouco mais o remo.Às 13h sou obrigado a parar, o estrondo é forte demais, meu coração bate rápido, ainda não superei o pavor de quase morrer duas vezes nos redemoinhos.Há uma torrente de água que se afunila numa garganta entre as rochas e se torce com força, não dá para ver se ali no meio tem rochas pois se entrar ali, naquela velocidade, despedaça o caiaque e eu junto.Paro num remanso, procuro um caminho alternativo, não tem.Carregar o caiaque sobre as rochas é impossível para mim sozinho.A princípio estou calmo, mas o pavor vai crescendo quando eu começo a falar para mim mesmo:-Cara, não tem jeito, tu vais ter que subir o rio contra a correnteza, fazer a volta e descer pelo meio daquela violência, tem que entrar lá do outro lado, bem junto das rochas do lado direito para ter uma chance de não bater nas rochas da esquerda.- Eu não acredito que tu vais fazer isto comigo!- Sinto muito brody, é por ali!- Deus me ajude!Faço sinal da Cruz, Deus é minha única companhia, peço seguidas vezes que me ajude enquanto sigo para o caiaque.Encho um flutuador dentro da mochila da proa para que o caiaque não afunde se virar. E lá se vai o condenado, senta no caiaque, posiciona a capa e se prepara para subir o rio e fazer a volta antes de entrar na correnteza.- Pronto virei, e agora?-Tenta levar ele bem pela direita e não deixa entrar de lado, pelo amor de Deus!A velocidade aumenta pavorosamente, não tem mais volta.- Trava bombordo seu desgraçado, trava!Travo com todas minhas forças, o bico endireita, esto quase batendo nas rochas da direita. Acho que meus olhos estão vidrados, só vejo a espuma e as ondas revoltas onde vou cair em segundos e aquelas malditas rochas da esquerda que podem sugar eu e o caiaque para uma viagem sem volta para o fundo.- DEUS ME AJUDA, DEUS ME AJU D A !O caiaque mergulha de bico, as ordens são para puxar a alça ejetar do caiaque e dar um jeito de agarrá-lo ao mesmo tempo.Tudo passa por cima o caiaque pula como um cavalo doido, as rochas da esquerda se aproximam.- TRAVA BORESTE, REMA BOMBORDO, RÁPIDO!Eu nem tenho tempo para pensar,apenas grito comigo mesmo:- REMA DESGRAÇADO, SAI DAI SEU MERDA!Estou de lado, vou bater, mas uma corrente salvadora me tira dali, o caiaque rodopia e gira ali no meio, parece se desviar sozinho das rochas, remo quando dá, mas o mais incrível acontece, não virou!- NÃO VIROU, OBRIGADO SENHOR!Cara é muito stress, que adrenalina!Sigo em frente, mas as corredeiras se sucedem, passo por várias, lugares belíssimos e algumas ilhas.Depois de 4 h de viagem escuto um estrondo forte demais.- Cara! Parece uma cachoeira, sai dai tu estas entrando na corredeira final.Que dor nas costas que nada, tenho que salvar minha vida. Faço uma força incrível e entro num remanso bem ao lado da mais pavorosa corredeira gigante ou cachoeira até aqui.Desço e vou filmar o local, é apavorante!Uma força descomunal de água, rochas ponteagudas bem no meio da torrente. Entrar ali é suicidio, pois é imprevisível e tem tudo para despedaçar o caiaque ou rachar a cabeça se virar e bater nas rochas.- Mas e se for por ali?-Vai te fuder, quer me matar seu corno?- Nem pensar, nem tente pensar em passar por ali.- Tô ficando com raiva de ti!Tudo bem, por terra não dava, havia casas rio acima, só que do outro lado.Teria que subir o rio contra a corrente e dar um jeito de atravessá-lo sem cair na corrente.Tentei no remo, mas a corrente foi mais forte e ele veio com tudo na direção da queda:- NÃO DEIXA VIRAR, NÃO DEIXA VIRAR!- REMA DESGRAÇADO, REMA VAI PARA O REMANSO!Ainda estou tremendo, só me resta subir por dentro dágua arrastando o caiaque com uma corda.A correnteza é muito forte, estou num ponto crítico enfiando os dedos em saliências nas rochas com a mão direita e a corda na esquerda.Se soltar a corda agora o caiaque se vai na queda.Não é que escorreguei?Não podendo soltar as mãos de jeito nenhum, fui obrigado a aparar a queda com a testa na rocha.Resultado: um tremendo "ovo" na testa, mas felizmente não cortou e não larguei nem a corda nem a saliência.Consegui passar dali e finalmente subi o rio fazendo o sinal da cruz entrando na corredeira de lado e fui atravessando ao mesmo tempo que descia para a cachoeira. Se o caiaque vira ali não se salva nenhum dos dois.Cheguei do outro lado e subi para chegar na casa, atravessei outra corrente mas não havia ninguém. resolvi descer o rio de novo até a cabeceira da queda, só que agora pela margem direita.Não é que o corno virou ao passr na corredeira que eu já tinha cruzado?O corno já se foi entrando para a cachoeira, alcancei-o com a mão esquerda e meti a mão direita numa saliência de rocha.- Não seu desgraçado!Acabei esmagando a unha do dedo da mão direita.Consegui descer até a cabeceira, arrastei o caiaque para cima e armei a barraca, era cedo mas dali não dava mais para seguir.- Ufa que dureza! Isto é que eu chamo de tratamento intensivo para a coluna detonada!Liguei o radinho, escutei o Brasil meter 4 x 1 na Argentina pela decisão da copa das Confederações, he, he!Como é doce o sabor da vingança!Lo siento mis amigos Argentinos pero este fué el vuelto de Buenos Aires!Levei todo o dia seguinte fazendo idas e vindas com a carga do caiaque sobre pedras e capim alto e tive a ajuda de um amigo na parte final.Acampei na praia, de frente para o final da cachoeira e conheci os donos do local.Ele pegou duas sucuris na rede que estendeu por ali.E eu achando que não havia mais...Esta noite que passou foi linda, vendo a corredeira, escutando as capivaras, os morcegos e os grilos.Amanheceu com neblina e o visual foi incrível quando ela subia e a cascata aparecia ao fundo.Acho que mais dois dias e acabam as corredeiras, este era o último grande obstáculo, ainda bem, pois estou no meu limite psicológico.No dia seguinte sigo meu destino, rumo a uma série de corredeiras e depois a do " Cavalo Russo" . Utilizei a minha tática "Kamikaze" .Depois a coisa foi ficando linda demais, o rio mais largo, uma paz que não tive até então, beleza indescritível.Seguidas vezes cruzo com capivaras, algumas fazem estardalhaço, outras entram devagar no rio com seus filhotes.Fiquei nervoso ao final do dia e tive que entrar por um pequeno afluente entre os galhos com lama acima do joelho e quase escuro. Facão e punhal na mão, lugar perigoso.Abri uma clareira e armei a barraca.Tu não consegue ficar muito tempo tranquilo.Acordo com muita cerração, gritos de seriemas e curicacas se destacam.Sigo em frente e o rio está quase sem forças, acabaram as corredeiras.- ALELUIA!Árvores enormes se debruçam sobre o rio, passo sob elas para fugir do sol forte, mas sempre olhando para cima, pois as sucuris gostam de ficar sobre os galhos...Vou em frente, o sol atrapalha para ver as margens, passo pela entrada do rio do Peixe e depois tudo começa a ficar largo demais, está difícil para me orientar, sem a bússola e apenas com o mapa rodoviário sou obrigado a utilizar o GPS (grupo de pessoas simpáticas). Acontece que informam(quando encontro alguém) muito por cima e começo a ter muitas dificuldades.Coloquei a bússola na proa, mas não dá para confiar nela, o rio faz muitas curvas e não tem uma direção geral.Comecei a passar por muitas florestas submersas pelo lago que se formou pela barragem depois de Caldas Novas.Dormi 1 km antes de chegar na ponte a comi uma carne com o pessoal que deixou acampar ali.Dia seguinte, local lindíssimo, cruzo com uma infinidade de tucanos, araras e até um urubu-rei, lindíssimo.O lugar é de cinema, papagaios cruzam o rio quase lago.Chego numa parte larga, vejo uma cidade, é Caldas novas.Vejo duas lanchas fundeadas e vou para lá pedir informações. Mal consigo olhar para os caras pois está cheio de prendas de biquini. Eles dizem:- Rapaiz, ocê tá muito animado!Chega o final do dia, não acho lugar para acampar então vejo uma casa flutuante que os pescadores deixam às margens do lago e monto acampamento ali, sobre a balsa.Amanhece o 17 dia e os bichos não me vêem, filmo um bando de macacos pregos e um enorme pica-pau de cabeça vermelha dando comida para os filhotes no ôco da árvore submersa bem na minha frente. Show de bola!Sigo em frente, seguidas vezes tomando o rumo errado encontro um cara louvando a Deus dentro do mato e quando pergunto par onde fica a barragem, ele manda eu ter paciência e começa a falar de Deus e das maravilhas daqui.Bueno, como diz meu irmão: - Tens que exercitar a tolerância!Finalmente chego na barragem, é cedo ainda.Deixo o caiaque junto às pedras, caminho o longo "s" da estrada até lá embaixo, junto a saída das turbinas onde está o prédio da administração.Apresento-me como " oficial da reserva do corpo de saúde Da Marinha do Brasil" o que não deixa de ser verdade.- O senhor nem deveria ter vindo aqui! É local proibido!- Não vi nenhuma placa!- É mas deveria ter percebido!- Eu não sou adivinho!Bueno, aquele papo não ia me ajudar e mudei o rumo da prosa, ele entrou no predio e não disse nada.Quando eu já estava pensando em descer o caiaque de rapel, ele autorizou uma camionete e três funcionários a pegar o caiaque lá em cima e me largaram ao lado das turbinas aqui em baixo.De brabo, fiquei tri feliz! Eram mais de 50 m de altura ia levar mais de 2 dias para cruzar sozinho. Segui adinte peguei água numa cascata ao lado do rio, passei por dragas de areia e fui em frente, passando por muitas florestas de gameleiras inundadas mas ainda vivas.
Acampei numa elevação entre elas e resolvi consertar as partes mais feias do caiaque com durepoxi.
18 dia - Parti meio tarde e logo adiante chego em uma ponte que está exatamente ao nível do rio. Sigo até a extrema, arrsto o caiaque por terra e sigo meu caminho. Passo pela ponte nova e de novo o rio se abre num lago com cinco ou seis direções a tomar.
Errando e acertando vou em frente, passando por belas sedes de fazendas até acampar em uma curva do lago, depois de girar sem rumo por mais de uma hora.
19 dia - Segui pela bússola o rumo W - SW vou por mim os caras só me dão informações erradas.Remo cerca de quatro horas, estou perdido de novo, vou numa direção e ouço sons de outro lado. Vejo uma balsa de transporte dew veículos e finalmente descubro onde estou no mapa.Sigo até onde é o terminal e ali fica próximo de Corumbá Azul.Um senhor me dá o rumo a seguir o lago tem uns 10 a 15 km de largura.Não é que o corno me manda seguir em direção de uma ilha no meio do lago enquanto eu deveria acompanhar a costa no rumo SW?Uma lancha passou perto fiz sinais e parei numa ilha, o mal poderia ter sido maior.
Aqui já é a foz do rio Corumbá e este imenso lago se forma com a junção do Rio Paranaiba, que faz a divisa entre Goias e Minas Gerais.
20 dia - Amanhece com um tremendo vento contra, cheio de carneirinhos, sou obrigado a deixar o bom senso prevalecer e ficar na ilha, estou puto da vida, se aquele cara não desse informação errada estaria perto do continente. poderia ter avisado a família( estou há 12 dias sem dar notícias) e talvez ter seguido em frente.Faço umas excursões a pé, descubro que estou na ilha Tancredo e louco de impaciência, vejo o dia passar. É muito triste e agoniante ficar assim.
Lá estava ele, sir Lancelot Issi em seu belo cavalo Maktub.Chegara no reino da Ilha Tancredo nem sabe como.Foram muitas batalhas e nosso herói sentia a necessidade de deixar um herdeiro neste reino para que governasse com justiça essa terra de ninguém.Foi enganado pela feiticeira Morgana que assumiu o corpo de sua jovem amada. Era apenas uma forte atração física e não levaria a nada. Seguiu batalhando pelo reino das Sucuris e se tornou lorde nas distantes terras de Santa Capivara.Esteve nas terras do Além, nas profundezas das Morredeiras( corredeiras), onde conheceu a Iara que quase o enfeitiçou.Andou por muitos lugares, pela terra dos Gladiadores. Quando achava que ia morrer seu amigo, um tal de Spartacus, lhe dizia:- AINDA NÃO É A SUA HORA!Perdido em pensamentos, conheceu a futura mãe de seu filho, mas ela estava prometida para o rei. Eles tiveram um filho, Vinicius, mas os anos se passaram e nosso herói, um High Lander das terras altas do Planalto Central não envelhecia.Sua bela amada ficou gorda e feia e nada mais lhe restou senão partir em busca de novas aventuras.Ele es teve nas Legiões ( Marinha), foi condenado a trabalhos forçados (consultório) mas conseguiu se libertar e fundar dois reinos, o da Lagoa da Conceição e o de Maktub, na Guarda do Embaú.Viu muitas vidas passarem e agora segue seu destino em busca de horizontes na direção do mar...
21 dia - Decidido a partir de qualquer jeito, parti com um forte vento se iniciando mas favorável.Fui em direção do último ponto de terra que podia ver para SW e que fosse do lado de Goias.Mais uma vez fiquei nervoso, tensão total pois não conheço direito este caiaque e estou fazendo uma travessia de 15 a 20 km com vento forte que forma carneirinhos. Para pegar e sair assim " tem que ter farinha no saco",pois a partir do momento que tu sais, sabes que não dá para voltar.Se der uma zebra de o caiaque virar fica na água por um dia ou dois.Sozinho com Deus vou me acalmando à medida que as horas passam e percebendo que o caiaque é muito bom, ele anda bem de qualquer jeito, tanto com ondas de proa como de través, que passam por cima mas não o desestabilizam.Fiquei feliz quando três horas depois cheguei na ponta que queria no maior pau de vento.Almocei a reversa do vento e depois segui para outra travessia de duas horas, agora mais consciente do que o caiaque é capaz de fazer.Cheguei na represa de Itumbiara e o pessoal foi legal demais e mais uma vez veio um baita dum caminhão que me transportou até a parte de baixo da usina.Eram 16:30 h quando sai dali e fui num pau violento até chegar em Itumbiara já noite.O pessoal do corpo de bombeiros me alojou depois de apresentar a declaração da Capitania dos Portos de SC (obrigado amigos) e minha identidade militar, está me ajudando muito a passar por barragens.Hoje vim para o centro da city e estou há quatro horas no computador.Os bombeiros falaram que existem muitas sucuris enormes aqui mesmo e mais para adiante, mas eu vou em frente, em busca do meu destino.Vou agradeçendo a Deus e a todos meus amigos que torcem por mim.Ao escrever estas linhas me sinto mais forte e feliz de dividir as aventuras com voces.A primeira parte foi muito mais violenta mas eu não tive muito tempo para esvrever.Um baita abraço a todos e até um novo despertar.André!
Olá amigos, parti de Itumbiara no dia 10/07 pronto para enfrentar um rio repleto de sucuris, com punhal no antebraço e fé em Deus.Parei num bar e falei com o dono e ele explicou que tem sucuris enormes mesmo, mas que não tem notícias de que elas atacam.Explicou que elas tem tocas nas barrancas (onde eu durmo) mas que elas saem a noite.Então fica assim: eu com o rio de dia elas com ele de noite.As margens são tomadas por um capim muito alto e impenetrável (capim de sucuri), florestas e campos mais ao fundo.Comecei uma rotina de remar tres horas, para, almoça, rema mais duas horas, descansa, duas horas e procura lugar para acampar.Finalmente achei uma clareira no capim de sucuri e armei a barraca em campo aberto, dormindo como bicho pronto pra reagir se atacado.Aqui na natureza é assim: muita beleza mas sempre alerta, tem que permanecer vivo.No dia seguinte o rio alarga, vento mais ou menos favorável, chego na barragem de cachoeira Dourada, os caras são legais e arrumam um caminhão caçamba para me largar abaixo das turbinas.Os caras acham que é muita coragem dormir nas barrancas junto as sucuris, mas botei na cabeça que elas não atacam de dia, é melhor pensar assim.Final de dia e nada de lugar para dormir, cruzo com um bando de macacos prego, papagaios e outros bichos.Achei lugar no alto de um barranco que desmoronou, o caiaque ficou lá embaixo.Estou dormindo e escuto barulho de folhas na árvore ao lado.- Fica aqui seu metido! Vai me arrumar confusão!- Cara pode ser macacos fazendo seu ninho na árvore, vai lá filmar com o infra vermelho.-Que cara desgraciado, não me deixa dormir e fica procurando sarna.Ao sair da barraca no escuro e me encaminhar para a árvore do barulho, sinto bater de asas e vento no rosto. Ligo a lanterna e vejo dezenas de morcegos passando na frente do facho da lanterna.-Pronto, satisfeito seu metido?No dia seguintre remo por sete horas, encontro um acampamento abandonado e uma floresta escura, é meio baixo astral mas que fazer.Chega um pescadore, ele diz que o nacampamento era dele, mas que parou de vir aqui porque uma enorme jararacuçu (uma enorme jararaca do banhado de uns 2 a 2,5m) muito agressiva lhe atacou duas vezes e que em outra oportunidade quase morreu queimado quando a lamparina virou e ele estava dormindo...-Legal, que belas informações ele me dá com a barraca já montada e anoitecendo.Diz ele que uns 15 min para frente há um terminal de balsa e que lá tem luz, banheiro e água...Gozado, apesar de jararacuçus e sucuris fico mais a vontade no mato.Agradeço e digo que vou ficar.No dia seguinte começam as longas travessias de 2 a 3 horas, chega numa ponta outra travessia.Muitas consultas no meu mapa rodoviário e na bússola, assim vou seguindo no rumo W-SW.É meio difícil, mas no geral estou acertando o rumo, às vezes, consulto com o binóculo.Parti na manhã do dia 14/07 escutando as caturritas e os papagaios, longas travessias, brigas histéricas com o caiaque que teima em mudar o curso por causa das ondas e do vento:_ Não é pra lá seu corno é pra onde eu quero que tu vás!E remava furiosamente, percebendo que cada vez mais a dor nas costas diminui.O tempo passa, tu ali passando as horas sozinho começa a viajar em pensamentos, lembrando das pessoas que se foram, dos amigos, de passagens alegres e tristews e começa a rir sozinho, ou de repente, começa a remar furiosamente quando lembra coisas que te deixam brabo.Isto sempre acontece, seja de bicicleta nos Andes, de moto pela América ou de Windsurf pela llLagoa dos Patos ou de Caiaque pelo mar.Depois de tres horas descanso msob a sombra de uma frondosa gameleira que envolveu um pé de bacuri.Sigo em frente e encontro um pessoal acampado com uma estrutura de dar inveja: Três possantes lanchas, caminhão baú, gerador mesas e tudo o mais.Ney, Èzio, Walter, João, Conceição, Wesley, Maurício, Cesar e Didi me convidam para chegar.Almoço com eles, são gente boa demais. Vamos de lancha pescar tucunarés, bebemos muita cerveja e de noite churrasco de picanha e linguiça.Muito legal mesmo, um pessoal bom e amigo demais.Hoje vim com o Ney e o Wesley até aqui, São Simão para mandar notícias, de lancha demorou 50 min, mas para vir de caiaque vou demorar uns dois dias, talvez um, fica quase ao lado da represa de São Simão.É isso aí, um baita abraço amigos e até a próxima, André!
Olá amigos, a viagem está meio doida. Muita coisa aconteceu e está acontecendo, enquanto a veia da foice não chega eu vou seguindo meu destino. Este é um resumo do diáro:
Bueno, no dia 15/07 fui de lancha com o Ney até S. Simão e no final do dia retornamos de lancha para o acampamento e passamos o resto do dia comendo e bebendo. O Cesar preparou o tucunaré ensopado e estava uma delícia.Que pessoal mais amigo e hospitaleiro, se eu não me sirvo, logo tem um colocando comida ou cerveja, aí eu fico pensando naqueles que acham que isto é " idiotice", pego um copo de cerveja, olho para as estrelas sobre a copa da gameleira, num lugar especial na beira do rio e "concordo" plenamente com estas pessoas.Agora devem estar assistindo a uma novela de vaqueiros, curtindo dramas alheios ou ouvindo os noticiários das "novelas" de Brasília.Há uma turma que vai caçar capivaras e eu resolvi encarar.Ligam o som, toca uma música do Bruno e Marronei que diz:- Que pescar que nada eu vou para a noite beijar na boca e deixar a mulherada toda louca...Fomos abrindo porteiras e andando a 100 km/h numa estrada de terra cheia de buracos e mata burros.Um deles recebe a ligação da mulher, motor desligado, silêncio pessoal! Já estamos em Santa Vitória, passa uma carreata para uma festa com fogos e som enquanto ele fala. O cara tem sangue frio!Chegamos no local da caçada, capturamos duas, mas o resto está perdido pelo mato.Na hora de matar e comer alguém lembra que capivaras tem carrapato...É melhor soltar as pobres, eram muito petiças e o odor não era dos melhores...Como a gente riu, que caçada mais divertida. O mais legal era cada um contando os "causos" de porque atirou ou não atirou.
Posso dizer que foi bom demais e que ninguém se feriu
Sucuri ao lado do Caiaque
Aqueles que estão nela considero meus amigos e por isto quero dividir com voces as emoções de uma aventura pelo interior de nossa America.Como já não estou mais 0 km e cheio de fraturas, hernia de disco e pedras no rim não posso garantir que vou longe, pois essa aventura pode durar apenas um dia ou seis meses.
O plano é sair de Brasília pelo rio S. Bartolomeu, que não tenho a mínima idéia de como é, se tem corredeiras, cachoeiras, cobras ou lagartos.Para complicar, seguirei com um caiaque de 5,20 m, imprópio para corredeiras, aliado ao fato de mais uns 40 kg de carga, o que vai impossibilitar o transporte por terra, então terei que me virar fazendo rapel e cruzando os obstáculos como puder à medida que surgirem.Bueno, eu só queria dividir as alegrias e as tristezas com vocês.Dia 16/06 estarei seguindo 1700km até Brasilia com o Aldo e talvez com o Robson e dali inicia mais uma aventura entre tantas outras.Acho que nosso destino já vem escrito e por isto o nome do barco ficou sendo MAKTUB (já estava escrito, em árabe).Serão 3.555 km até B.Aires pela bacia do R. Paraná e Prata; dali mais de 1.500 km pelos mares do sul até Porto Alegre e dali para Florianopolis, um total de mais de 5.000 km.Tem tudo para dar errado, as cachoeiras, corredeiras, represas, doenças, cobras venenosas, sucuris, jacarés e piranhas, além de traficantes e ladrões.Depois de tudo isto terei o mar gelado do sul e as ondas onde terei meu batismo pois nunca naveguei pelo mar com este caiaque argentino, dos meus "irmãos" de Rosário.Acontece que as pessoas idealizam sonhos, correm atrás de horizontes e se tornam infelizes se abdicam das coisas sem tentar.Eu sou apenas mais um, se não der, paciência!Bueno, se eu estiver realizando o sonho de alguém e conseguir transmitir um pouco de luz no dia a dia dos que ficam, terá valido a pena.Um abraço forte a todos e espero que voltemos a nos rever além de terras e através do sempre.Hasta la vista.
Olá amigos, estou em Pires do Rio, Goias. Parece que passou um mes, estou cheio de cortes, contusôes, o caiaque está todo trincado, arranhado, de leme partido mas eu ainda nâo entreguei os pontos. Como se diz lá no Rio Grande " não está morto quem peleia ". Eu quase morri por tres vezes, a primeira quando quase cai em uma cachoeira depois de uma curva de rio, a segunda quando o caiaque, ao descer em uma forte corredeira não fez a curva e sumiu por baixo de uma rocha comigo junto.Tu fica preso nele de cabeça para baixo com a violenta turbulência desorientando tentando achar a alça que te libera do caiaque, descobrir para que lado fica a superfície e tirar tu e o caiaque das pedras.A pior foi a terceira quando entrei em um longo canyon de uns quatro metros de largura e o caiaque entrou de lado nas rochas negras e virou.Puxei a alça, ejetei do caiaque e fui sugado pelo redemoinho e fiquei girando como um louco com colete e tudo sem saber para que lado ficava a superfície. Os pulmões pareciam estourar e só pensava:- Vou morrer, vou morrer!Quando tudo parecia perdido fui levado para a superfície onde respirei e mergulhava de novo quando meu braço esquerdo encontrou o caiaque enquanto o redemoinho nos levava de volta para o lugar onde afundara.Chutei as rochas com força para sair dali e depois fomos arrastados até chegar em um remanso.Teve outra corredeira em que fui rolando nas rochas virando um monte e batendo nas pedras por cerca de trezentos metros.O rio São Bartolomeu quase me matou por tres vezes mas o máximo que ele fez foi roubar minha auto confiança.É um rio que ainda tem sucuris, mas não vi nenhuma. Apenas capivaras, ariranhas e tucanos, entre outros bichos.Estou com um arsenal de punhais nos antebraços, facas e facões na coberta do caiaque. Sucuri nenhuma vai me pegar sem levar o troco.Passei por inúmeras situações de perigo real, não tem como recuar.Aprendi a pedir a Deus para me ajudar a cada corredeira mais violenta que tenho que enfrentar.Passei por muitas balsas que retiram água do rio para os Garimpos.O rio São Bartolomeu foi uma corredeira só, muitos perigos, na Garganta do Diabo dei de cara numa rocha e jogou a cabeça para trás, acho que ali foi o início do problema pelo qual vou fazer uma radiografia daqui a pouco no hospital da cidade.Estou detonado mas não estou morto, como diziam no filme Gladiador:- " Ainda não é a hora"! Depois de seis dias cheguei no Rio Corumbá, logo ao lado de um imenso viaduto de trem.Saldo até aqui: diveras escoriações nas mãos, "ovos" nas canelas, panturrilha da perna direita e nas costas.Caiaque: várias trincas no casco, leme despedaçado, inúmeros riscos nas rochas mas ele é valente acima de tudo, até agora não está fazendo água.Ele é um caiaque oceânico, de 5,20 m de comprimento, difícilimo de manobrar em corredeiras estreitas e curvas mas o nosso destino final é o mar e é para lá o nosso caminho.Eu sabia que seria difícil no começo, mas está duro demais, espero sobreviver até o mar.Tive que aprender na hora a manobrar pela primeira vez em corredeires, pela primeira vez utilizando o caiaque com seus 50 kg de carga e sem conhecer absolutamente nada sobre os rios por onde vou passar, apenas dirigi o carro por 2000 km com meu amigo Aldo, achamos o local para iniciar durante a noite colocamos o barco n´água e parti sem saber o que me esperava. Seguindo pelo rio Corumbá o rio começou a serpentear entre milhares de rochas negras, com corredeiras mais fáceis a princípio.A coisa foi piorando, o rio estreitando até chegar numa pavorosa garganta de apenas quatro metros de largura.O meu instinto de auto preservação, pavor e medo chegou no limite, eu sabia que entrando ali o caiaque seria jogado de lado nas rochas, viraria e o resto...Foi aí que comecei a falar com Deus, eu não tinha como voltar e não havia ninguém para me ajudar.Quando decidi que deveria seguir em frente, entrar naquele caiaque e me dirigir para a garganta vendo a violenta turbulência se aproximando foi a coisa mais difícil do mundo.Aquilo é como a vida, os problemas nos esperam e não adianta querer contorná-los, para superá-los, devemos enfrentar de frente o que vier.O caiaque virou, puxei a alça, ejetei mas permaneci agarrado ao barco.Se ele afunda, afundo junto, mas nunca mais vou abandoná-lo.Não morri e assim como esta passei muitas outras mais. Na verdade, dizer que passei por centenas de corredeiras taslvez seja pouco.Dois dias depois parei para pedir informações e quando fui passar por outra corredeira alguma coisa deslocou na coluna vertebral e fiquei quase paralisado de dor nas costas. Parecia haver uma faca cravada entre as vértebras.Fiquei dois dias acampado na beira do rio, tomando anti inflamatório até que consegui carona num pequeno vagão de reparo de linha férrea que segue paralela ao rio.Cheguei ontem a noite e daqui vou no hospital fazer o rx e conversar com o médico.Em princípio vou continuar, a não ser por impedimento médico.Eu passei por muita coisa, limite fisico e moral mas se depender de mim vou em frente. Ainda tem cachoeiras e corredeiras pela frente, mas se esse rios pensam ver um soldado se curvar, o máximo que ouvirão é um guerreiro suspirar.Tirando fora os "probleminhas" com corredeiras e cachoeiras o que fica são as imagens de um por de sol por detrás da mata, do vôo dos tucanos, do chiado das ariranhas e do latido das capivaras;Para tudo eu digo:
Sucuri
Lá longe, onde brilha o sol,Estão minhas supremas esperanças.Talvez não as alcance, mas posso ver sua beleza,Crer naquilo que elas representamE tratar de seguir o caminho que me ensinam.
A vida chegou até minhas mãos por um breve instante,Como uma tocha esplêndidaE eu quero fazê-la arder com o maior brilho possívelAntes de entregár-laÀs próximas gerações.
É isso aí meus amigos, vou em frente nesta batalha e a luz pode se apagar a qualquer instante, mas que enquanto durar ela brilhe com nunca mais!Um baita abraço do amigo André.
Depois de ficar o dia todo no Hospital ficou constatado pelas radiografias que não houve nenhum deslocamento de vértebra, deve ter sido uma forte distensão. O dr. Renato receitou anti-inflamatório mas isto eu já vinha tomando.Decidi que partiria no dia seguinte, mesmo com dores, pois o medo maior era ter deslocado algo.A dor eu posso suportar.É o décimo segundo dia de viagem, estou nervoso, vou enfrentar corredeiras de novo sem saber se consigo superar a dor. Dormi dois dias na segurança de uma casa e agora me vejo de frente para o rio Corumbá sem saber o que vai ser .Me despeço dos amigos que carregaram o caiaque para mim até a beira do rio, coloco o colete as luvas, engulo em seco e me despeço dos amigos.Pois é seu André, agora é só tu e Deus de novo.E lá se vai nosso herói estropiado: perseguindo horizontes ou moinhos de vento?Logo se aproxima a primeira corredeira, o barulho alto da água vai se aproximando, tu tentas ver por onde é o melhor caminho, mas só percebe nos instantes finais. Tento desviar das rochas mas não dá para fazer força e acabo raspando o fundo.-Merda!Acho que estou ficando bom, pois já estou reinando.Aprendi a não lutar com o rio, deixo o caiaque escolher por onde ir, ele segue por onde a correnteza é mais forte, mas o meu instinto de auto preservação quer evitar estes locais.Antes de chegar nas pedras o rio forma um "v" invertido, é ali onde devo colocar a proa, por ali passa sem bater nas rochas e, ao longo do dia, assim vou seguindo.Tu passas uma corredeira e já começa a ouvir o som da próxima, é agoniante!Passei por três pontes que ligam Pires do Rio e vou seguindo.As corredeiras estão cada vez piores, é uma colada na outra, está difícil de escolher o caminho certo, por enquanto vou me dando bem. Só dá uma fisgada mais forte quando forço um pouco mais o remo.Às 13h sou obrigado a parar, o estrondo é forte demais, meu coração bate rápido, ainda não superei o pavor de quase morrer duas vezes nos redemoinhos.Há uma torrente de água que se afunila numa garganta entre as rochas e se torce com força, não dá para ver se ali no meio tem rochas pois se entrar ali, naquela velocidade, despedaça o caiaque e eu junto.Paro num remanso, procuro um caminho alternativo, não tem.Carregar o caiaque sobre as rochas é impossível para mim sozinho.A princípio estou calmo, mas o pavor vai crescendo quando eu começo a falar para mim mesmo:-Cara, não tem jeito, tu vais ter que subir o rio contra a correnteza, fazer a volta e descer pelo meio daquela violência, tem que entrar lá do outro lado, bem junto das rochas do lado direito para ter uma chance de não bater nas rochas da esquerda.- Eu não acredito que tu vais fazer isto comigo!- Sinto muito brody, é por ali!- Deus me ajude!Faço sinal da Cruz, Deus é minha única companhia, peço seguidas vezes que me ajude enquanto sigo para o caiaque.Encho um flutuador dentro da mochila da proa para que o caiaque não afunde se virar. E lá se vai o condenado, senta no caiaque, posiciona a capa e se prepara para subir o rio e fazer a volta antes de entrar na correnteza.- Pronto virei, e agora?-Tenta levar ele bem pela direita e não deixa entrar de lado, pelo amor de Deus!A velocidade aumenta pavorosamente, não tem mais volta.- Trava bombordo seu desgraçado, trava!Travo com todas minhas forças, o bico endireita, esto quase batendo nas rochas da direita. Acho que meus olhos estão vidrados, só vejo a espuma e as ondas revoltas onde vou cair em segundos e aquelas malditas rochas da esquerda que podem sugar eu e o caiaque para uma viagem sem volta para o fundo.- DEUS ME AJUDA, DEUS ME AJU D A !O caiaque mergulha de bico, as ordens são para puxar a alça ejetar do caiaque e dar um jeito de agarrá-lo ao mesmo tempo.Tudo passa por cima o caiaque pula como um cavalo doido, as rochas da esquerda se aproximam.- TRAVA BORESTE, REMA BOMBORDO, RÁPIDO!Eu nem tenho tempo para pensar,apenas grito comigo mesmo:- REMA DESGRAÇADO, SAI DAI SEU MERDA!Estou de lado, vou bater, mas uma corrente salvadora me tira dali, o caiaque rodopia e gira ali no meio, parece se desviar sozinho das rochas, remo quando dá, mas o mais incrível acontece, não virou!- NÃO VIROU, OBRIGADO SENHOR!Cara é muito stress, que adrenalina!Sigo em frente, mas as corredeiras se sucedem, passo por várias, lugares belíssimos e algumas ilhas.Depois de 4 h de viagem escuto um estrondo forte demais.- Cara! Parece uma cachoeira, sai dai tu estas entrando na corredeira final.Que dor nas costas que nada, tenho que salvar minha vida. Faço uma força incrível e entro num remanso bem ao lado da mais pavorosa corredeira gigante ou cachoeira até aqui.Desço e vou filmar o local, é apavorante!Uma força descomunal de água, rochas ponteagudas bem no meio da torrente. Entrar ali é suicidio, pois é imprevisível e tem tudo para despedaçar o caiaque ou rachar a cabeça se virar e bater nas rochas.- Mas e se for por ali?-Vai te fuder, quer me matar seu corno?- Nem pensar, nem tente pensar em passar por ali.- Tô ficando com raiva de ti!Tudo bem, por terra não dava, havia casas rio acima, só que do outro lado.Teria que subir o rio contra a corrente e dar um jeito de atravessá-lo sem cair na corrente.Tentei no remo, mas a corrente foi mais forte e ele veio com tudo na direção da queda:- NÃO DEIXA VIRAR, NÃO DEIXA VIRAR!- REMA DESGRAÇADO, REMA VAI PARA O REMANSO!Ainda estou tremendo, só me resta subir por dentro dágua arrastando o caiaque com uma corda.A correnteza é muito forte, estou num ponto crítico enfiando os dedos em saliências nas rochas com a mão direita e a corda na esquerda.Se soltar a corda agora o caiaque se vai na queda.Não é que escorreguei?Não podendo soltar as mãos de jeito nenhum, fui obrigado a aparar a queda com a testa na rocha.Resultado: um tremendo "ovo" na testa, mas felizmente não cortou e não larguei nem a corda nem a saliência.Consegui passar dali e finalmente subi o rio fazendo o sinal da cruz entrando na corredeira de lado e fui atravessando ao mesmo tempo que descia para a cachoeira. Se o caiaque vira ali não se salva nenhum dos dois.Cheguei do outro lado e subi para chegar na casa, atravessei outra corrente mas não havia ninguém. resolvi descer o rio de novo até a cabeceira da queda, só que agora pela margem direita.Não é que o corno virou ao passr na corredeira que eu já tinha cruzado?O corno já se foi entrando para a cachoeira, alcancei-o com a mão esquerda e meti a mão direita numa saliência de rocha.- Não seu desgraçado!Acabei esmagando a unha do dedo da mão direita.Consegui descer até a cabeceira, arrastei o caiaque para cima e armei a barraca, era cedo mas dali não dava mais para seguir.- Ufa que dureza! Isto é que eu chamo de tratamento intensivo para a coluna detonada!Liguei o radinho, escutei o Brasil meter 4 x 1 na Argentina pela decisão da copa das Confederações, he, he!Como é doce o sabor da vingança!Lo siento mis amigos Argentinos pero este fué el vuelto de Buenos Aires!Levei todo o dia seguinte fazendo idas e vindas com a carga do caiaque sobre pedras e capim alto e tive a ajuda de um amigo na parte final.Acampei na praia, de frente para o final da cachoeira e conheci os donos do local.Ele pegou duas sucuris na rede que estendeu por ali.E eu achando que não havia mais...Esta noite que passou foi linda, vendo a corredeira, escutando as capivaras, os morcegos e os grilos.Amanheceu com neblina e o visual foi incrível quando ela subia e a cascata aparecia ao fundo.Acho que mais dois dias e acabam as corredeiras, este era o último grande obstáculo, ainda bem, pois estou no meu limite psicológico.No dia seguinte sigo meu destino, rumo a uma série de corredeiras e depois a do " Cavalo Russo" . Utilizei a minha tática "Kamikaze" .Depois a coisa foi ficando linda demais, o rio mais largo, uma paz que não tive até então, beleza indescritível.Seguidas vezes cruzo com capivaras, algumas fazem estardalhaço, outras entram devagar no rio com seus filhotes.Fiquei nervoso ao final do dia e tive que entrar por um pequeno afluente entre os galhos com lama acima do joelho e quase escuro. Facão e punhal na mão, lugar perigoso.Abri uma clareira e armei a barraca.Tu não consegue ficar muito tempo tranquilo.Acordo com muita cerração, gritos de seriemas e curicacas se destacam.Sigo em frente e o rio está quase sem forças, acabaram as corredeiras.- ALELUIA!Árvores enormes se debruçam sobre o rio, passo sob elas para fugir do sol forte, mas sempre olhando para cima, pois as sucuris gostam de ficar sobre os galhos...Vou em frente, o sol atrapalha para ver as margens, passo pela entrada do rio do Peixe e depois tudo começa a ficar largo demais, está difícil para me orientar, sem a bússola e apenas com o mapa rodoviário sou obrigado a utilizar o GPS (grupo de pessoas simpáticas). Acontece que informam(quando encontro alguém) muito por cima e começo a ter muitas dificuldades.Coloquei a bússola na proa, mas não dá para confiar nela, o rio faz muitas curvas e não tem uma direção geral.Comecei a passar por muitas florestas submersas pelo lago que se formou pela barragem depois de Caldas Novas.Dormi 1 km antes de chegar na ponte a comi uma carne com o pessoal que deixou acampar ali.Dia seguinte, local lindíssimo, cruzo com uma infinidade de tucanos, araras e até um urubu-rei, lindíssimo.O lugar é de cinema, papagaios cruzam o rio quase lago.Chego numa parte larga, vejo uma cidade, é Caldas novas.Vejo duas lanchas fundeadas e vou para lá pedir informações. Mal consigo olhar para os caras pois está cheio de prendas de biquini. Eles dizem:- Rapaiz, ocê tá muito animado!Chega o final do dia, não acho lugar para acampar então vejo uma casa flutuante que os pescadores deixam às margens do lago e monto acampamento ali, sobre a balsa.Amanhece o 17 dia e os bichos não me vêem, filmo um bando de macacos pregos e um enorme pica-pau de cabeça vermelha dando comida para os filhotes no ôco da árvore submersa bem na minha frente. Show de bola!Sigo em frente, seguidas vezes tomando o rumo errado encontro um cara louvando a Deus dentro do mato e quando pergunto par onde fica a barragem, ele manda eu ter paciência e começa a falar de Deus e das maravilhas daqui.Bueno, como diz meu irmão: - Tens que exercitar a tolerância!Finalmente chego na barragem, é cedo ainda.Deixo o caiaque junto às pedras, caminho o longo "s" da estrada até lá embaixo, junto a saída das turbinas onde está o prédio da administração.Apresento-me como " oficial da reserva do corpo de saúde Da Marinha do Brasil" o que não deixa de ser verdade.- O senhor nem deveria ter vindo aqui! É local proibido!- Não vi nenhuma placa!- É mas deveria ter percebido!- Eu não sou adivinho!Bueno, aquele papo não ia me ajudar e mudei o rumo da prosa, ele entrou no predio e não disse nada.Quando eu já estava pensando em descer o caiaque de rapel, ele autorizou uma camionete e três funcionários a pegar o caiaque lá em cima e me largaram ao lado das turbinas aqui em baixo.De brabo, fiquei tri feliz! Eram mais de 50 m de altura ia levar mais de 2 dias para cruzar sozinho. Segui adinte peguei água numa cascata ao lado do rio, passei por dragas de areia e fui em frente, passando por muitas florestas de gameleiras inundadas mas ainda vivas.
Acampei numa elevação entre elas e resolvi consertar as partes mais feias do caiaque com durepoxi.
18 dia - Parti meio tarde e logo adiante chego em uma ponte que está exatamente ao nível do rio. Sigo até a extrema, arrsto o caiaque por terra e sigo meu caminho. Passo pela ponte nova e de novo o rio se abre num lago com cinco ou seis direções a tomar.
Errando e acertando vou em frente, passando por belas sedes de fazendas até acampar em uma curva do lago, depois de girar sem rumo por mais de uma hora.
19 dia - Segui pela bússola o rumo W - SW vou por mim os caras só me dão informações erradas.Remo cerca de quatro horas, estou perdido de novo, vou numa direção e ouço sons de outro lado. Vejo uma balsa de transporte dew veículos e finalmente descubro onde estou no mapa.Sigo até onde é o terminal e ali fica próximo de Corumbá Azul.Um senhor me dá o rumo a seguir o lago tem uns 10 a 15 km de largura.Não é que o corno me manda seguir em direção de uma ilha no meio do lago enquanto eu deveria acompanhar a costa no rumo SW?Uma lancha passou perto fiz sinais e parei numa ilha, o mal poderia ter sido maior.
Aqui já é a foz do rio Corumbá e este imenso lago se forma com a junção do Rio Paranaiba, que faz a divisa entre Goias e Minas Gerais.
20 dia - Amanhece com um tremendo vento contra, cheio de carneirinhos, sou obrigado a deixar o bom senso prevalecer e ficar na ilha, estou puto da vida, se aquele cara não desse informação errada estaria perto do continente. poderia ter avisado a família( estou há 12 dias sem dar notícias) e talvez ter seguido em frente.Faço umas excursões a pé, descubro que estou na ilha Tancredo e louco de impaciência, vejo o dia passar. É muito triste e agoniante ficar assim.
Lá estava ele, sir Lancelot Issi em seu belo cavalo Maktub.Chegara no reino da Ilha Tancredo nem sabe como.Foram muitas batalhas e nosso herói sentia a necessidade de deixar um herdeiro neste reino para que governasse com justiça essa terra de ninguém.Foi enganado pela feiticeira Morgana que assumiu o corpo de sua jovem amada. Era apenas uma forte atração física e não levaria a nada. Seguiu batalhando pelo reino das Sucuris e se tornou lorde nas distantes terras de Santa Capivara.Esteve nas terras do Além, nas profundezas das Morredeiras( corredeiras), onde conheceu a Iara que quase o enfeitiçou.Andou por muitos lugares, pela terra dos Gladiadores. Quando achava que ia morrer seu amigo, um tal de Spartacus, lhe dizia:- AINDA NÃO É A SUA HORA!Perdido em pensamentos, conheceu a futura mãe de seu filho, mas ela estava prometida para o rei. Eles tiveram um filho, Vinicius, mas os anos se passaram e nosso herói, um High Lander das terras altas do Planalto Central não envelhecia.Sua bela amada ficou gorda e feia e nada mais lhe restou senão partir em busca de novas aventuras.Ele es teve nas Legiões ( Marinha), foi condenado a trabalhos forçados (consultório) mas conseguiu se libertar e fundar dois reinos, o da Lagoa da Conceição e o de Maktub, na Guarda do Embaú.Viu muitas vidas passarem e agora segue seu destino em busca de horizontes na direção do mar...
21 dia - Decidido a partir de qualquer jeito, parti com um forte vento se iniciando mas favorável.Fui em direção do último ponto de terra que podia ver para SW e que fosse do lado de Goias.Mais uma vez fiquei nervoso, tensão total pois não conheço direito este caiaque e estou fazendo uma travessia de 15 a 20 km com vento forte que forma carneirinhos. Para pegar e sair assim " tem que ter farinha no saco",pois a partir do momento que tu sais, sabes que não dá para voltar.Se der uma zebra de o caiaque virar fica na água por um dia ou dois.Sozinho com Deus vou me acalmando à medida que as horas passam e percebendo que o caiaque é muito bom, ele anda bem de qualquer jeito, tanto com ondas de proa como de través, que passam por cima mas não o desestabilizam.Fiquei feliz quando três horas depois cheguei na ponta que queria no maior pau de vento.Almocei a reversa do vento e depois segui para outra travessia de duas horas, agora mais consciente do que o caiaque é capaz de fazer.Cheguei na represa de Itumbiara e o pessoal foi legal demais e mais uma vez veio um baita dum caminhão que me transportou até a parte de baixo da usina.Eram 16:30 h quando sai dali e fui num pau violento até chegar em Itumbiara já noite.O pessoal do corpo de bombeiros me alojou depois de apresentar a declaração da Capitania dos Portos de SC (obrigado amigos) e minha identidade militar, está me ajudando muito a passar por barragens.Hoje vim para o centro da city e estou há quatro horas no computador.Os bombeiros falaram que existem muitas sucuris enormes aqui mesmo e mais para adiante, mas eu vou em frente, em busca do meu destino.Vou agradeçendo a Deus e a todos meus amigos que torcem por mim.Ao escrever estas linhas me sinto mais forte e feliz de dividir as aventuras com voces.A primeira parte foi muito mais violenta mas eu não tive muito tempo para esvrever.Um baita abraço a todos e até um novo despertar.André!
Olá amigos, parti de Itumbiara no dia 10/07 pronto para enfrentar um rio repleto de sucuris, com punhal no antebraço e fé em Deus.Parei num bar e falei com o dono e ele explicou que tem sucuris enormes mesmo, mas que não tem notícias de que elas atacam.Explicou que elas tem tocas nas barrancas (onde eu durmo) mas que elas saem a noite.Então fica assim: eu com o rio de dia elas com ele de noite.As margens são tomadas por um capim muito alto e impenetrável (capim de sucuri), florestas e campos mais ao fundo.Comecei uma rotina de remar tres horas, para, almoça, rema mais duas horas, descansa, duas horas e procura lugar para acampar.Finalmente achei uma clareira no capim de sucuri e armei a barraca em campo aberto, dormindo como bicho pronto pra reagir se atacado.Aqui na natureza é assim: muita beleza mas sempre alerta, tem que permanecer vivo.No dia seguinte o rio alarga, vento mais ou menos favorável, chego na barragem de cachoeira Dourada, os caras são legais e arrumam um caminhão caçamba para me largar abaixo das turbinas.Os caras acham que é muita coragem dormir nas barrancas junto as sucuris, mas botei na cabeça que elas não atacam de dia, é melhor pensar assim.Final de dia e nada de lugar para dormir, cruzo com um bando de macacos prego, papagaios e outros bichos.Achei lugar no alto de um barranco que desmoronou, o caiaque ficou lá embaixo.Estou dormindo e escuto barulho de folhas na árvore ao lado.- Fica aqui seu metido! Vai me arrumar confusão!- Cara pode ser macacos fazendo seu ninho na árvore, vai lá filmar com o infra vermelho.-Que cara desgraciado, não me deixa dormir e fica procurando sarna.Ao sair da barraca no escuro e me encaminhar para a árvore do barulho, sinto bater de asas e vento no rosto. Ligo a lanterna e vejo dezenas de morcegos passando na frente do facho da lanterna.-Pronto, satisfeito seu metido?No dia seguintre remo por sete horas, encontro um acampamento abandonado e uma floresta escura, é meio baixo astral mas que fazer.Chega um pescadore, ele diz que o nacampamento era dele, mas que parou de vir aqui porque uma enorme jararacuçu (uma enorme jararaca do banhado de uns 2 a 2,5m) muito agressiva lhe atacou duas vezes e que em outra oportunidade quase morreu queimado quando a lamparina virou e ele estava dormindo...-Legal, que belas informações ele me dá com a barraca já montada e anoitecendo.Diz ele que uns 15 min para frente há um terminal de balsa e que lá tem luz, banheiro e água...Gozado, apesar de jararacuçus e sucuris fico mais a vontade no mato.Agradeço e digo que vou ficar.No dia seguinte começam as longas travessias de 2 a 3 horas, chega numa ponta outra travessia.Muitas consultas no meu mapa rodoviário e na bússola, assim vou seguindo no rumo W-SW.É meio difícil, mas no geral estou acertando o rumo, às vezes, consulto com o binóculo.Parti na manhã do dia 14/07 escutando as caturritas e os papagaios, longas travessias, brigas histéricas com o caiaque que teima em mudar o curso por causa das ondas e do vento:_ Não é pra lá seu corno é pra onde eu quero que tu vás!E remava furiosamente, percebendo que cada vez mais a dor nas costas diminui.O tempo passa, tu ali passando as horas sozinho começa a viajar em pensamentos, lembrando das pessoas que se foram, dos amigos, de passagens alegres e tristews e começa a rir sozinho, ou de repente, começa a remar furiosamente quando lembra coisas que te deixam brabo.Isto sempre acontece, seja de bicicleta nos Andes, de moto pela América ou de Windsurf pela llLagoa dos Patos ou de Caiaque pelo mar.Depois de tres horas descanso msob a sombra de uma frondosa gameleira que envolveu um pé de bacuri.Sigo em frente e encontro um pessoal acampado com uma estrutura de dar inveja: Três possantes lanchas, caminhão baú, gerador mesas e tudo o mais.Ney, Èzio, Walter, João, Conceição, Wesley, Maurício, Cesar e Didi me convidam para chegar.Almoço com eles, são gente boa demais. Vamos de lancha pescar tucunarés, bebemos muita cerveja e de noite churrasco de picanha e linguiça.Muito legal mesmo, um pessoal bom e amigo demais.Hoje vim com o Ney e o Wesley até aqui, São Simão para mandar notícias, de lancha demorou 50 min, mas para vir de caiaque vou demorar uns dois dias, talvez um, fica quase ao lado da represa de São Simão.É isso aí, um baita abraço amigos e até a próxima, André!
Olá amigos, a viagem está meio doida. Muita coisa aconteceu e está acontecendo, enquanto a veia da foice não chega eu vou seguindo meu destino. Este é um resumo do diáro:
Bueno, no dia 15/07 fui de lancha com o Ney até S. Simão e no final do dia retornamos de lancha para o acampamento e passamos o resto do dia comendo e bebendo. O Cesar preparou o tucunaré ensopado e estava uma delícia.Que pessoal mais amigo e hospitaleiro, se eu não me sirvo, logo tem um colocando comida ou cerveja, aí eu fico pensando naqueles que acham que isto é " idiotice", pego um copo de cerveja, olho para as estrelas sobre a copa da gameleira, num lugar especial na beira do rio e "concordo" plenamente com estas pessoas.Agora devem estar assistindo a uma novela de vaqueiros, curtindo dramas alheios ou ouvindo os noticiários das "novelas" de Brasília.Há uma turma que vai caçar capivaras e eu resolvi encarar.Ligam o som, toca uma música do Bruno e Marronei que diz:- Que pescar que nada eu vou para a noite beijar na boca e deixar a mulherada toda louca...Fomos abrindo porteiras e andando a 100 km/h numa estrada de terra cheia de buracos e mata burros.Um deles recebe a ligação da mulher, motor desligado, silêncio pessoal! Já estamos em Santa Vitória, passa uma carreata para uma festa com fogos e som enquanto ele fala. O cara tem sangue frio!Chegamos no local da caçada, capturamos duas, mas o resto está perdido pelo mato.Na hora de matar e comer alguém lembra que capivaras tem carrapato...É melhor soltar as pobres, eram muito petiças e o odor não era dos melhores...Como a gente riu, que caçada mais divertida. O mais legal era cada um contando os "causos" de porque atirou ou não atirou.
Posso dizer que foi bom demais e que ninguém se feriu
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