sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ex-executiva de 51 anos se reencontra no fisiculturismo, Antes do fisiculturismo, Eva Birath tinha carreira de executiva


Eva Birath caminha pela passarela à beira-mar, e diante de lojas e barracas que vendem diversas variedades odoríferas de comida nada saudável que ela jamais consumiria. Birath é uma sueca loira de 1,80m, com olhos azuis e músculos cinzelados, e, vestida em uma camiseta sem mangas de lycra e calças de abrigo, se acostumou a chamar a atenção das pessoas.

"Quanto você ergue de peso?", pergunta um homem sentado em seu caminho. Birath diz que ela está acostumada a ouvir perguntas desse tipo. Na Suécia, afirma, ouve coisas muito piores. O homem repetiu a pergunta, e Birath continuou a ignorá-lo.

Perguntas indiscretas e olhares curiosos são o preço que Birath paga por uma mudança de carreira notável e quase inédita.

Quatro anos atrás, aos 47, ela era uma executiva de marketing sempre ocupada, e já havia passado por dois divórcios. Ganhava 45 mil coroas (cerca de US$ 6,7 mil) ao mês, voava freqüentemente em viagens de negócios a Estocolmo, falava o tempo todo em seu celular e vivia com seus dois filhos em uma casa grande em Goteborg. Ela diz que se tratava de uma vida normal de executiva, vivida sempre sob intensa pressão. Foi então, em dezembro de 2002, que ela terminou demitida.

Birath vendeu a casa e se mudou para um apartamento. Vendeu o carro. Não sabia o que fazer a seguir. Começou a freqüentar uma academia próxima, onde um dos usuários regulares comentou que ela tinha um corpo excelente para o fisiculturismo. Ela descobriu sobre um torneio que aconteceria em dezembro seguinte, e se inscreveu, mesmo sem saber nada sobre o esporte -qual era a melhor dieta, como treinar, como posar.

"Era muito incomum que alguém começasse no fisiculturismo com a minha idade, mas eu achava que o desafio estava exatamente nisso", diz Birath, 51 anos. "Eu imaginava que as pessoas todas tivessem preconceitos, como a idéia de que todo halterofilista é estúpido".

Em seu primeiro torneio, Birath enfrentou apenas uma adversária na divisão peso pesado, e venceu. Ela diz hoje que isso foi uma espécie de acidente afortunado, mas bastou para convencê-la a se dedicar ao treinamento como fisiculturista amadora.

No ano passado, ela terminou em quarto lugar no campeonato sueco, e a despeito do fato de ser pelo menos 10 anos mais velha que as demais concorrentes, é uma das favoritas à vitória este ano, na disputa que será realizada em Vasteras nos dias 13 e 14 de outubro.

Acompanhando sua amiga e parceria de treinamento Irene Anderson a um torneio profissional em Atlantic City (a viagem foi paga pelo patrocinador), ela já começou a reduzir seu consumo de carboidratos, em preparação para o campeonato sueco.

"Eu quero muito ver o corpo que Eva terá desenvolvido no ano que vem", disse Andersen, 41. "Com mais um ano, ela será ainda melhor".

Não é inédito que mulheres de mais de 50 anos obtenham sucesso no fisiculturismo, quer entre as amadoras, como Birath, quer, em raras ocasiões, como profissionais. Mas é uma escolha ainda muito incomum, especialmente entre as mulheres, disse Magnus Branzen, que trabalha para a Body, uma revista sueca de fisiculturismo. E a maioria das que encontram sucesso tem décadas de treinamento em seus currículos.

"De fato, não há muitas concorrentes da idade dela na Suécia", escreveu Branzen em mensagem de e-mail. "Nem mesmo em termos históricos, e especialmente se considerarmos que ela começou no esporte tão tarde".

Birath disse que se adaptou facilmente ao regime severo do esporte, e atribui parte de seu sucesso à genética. Começou a seguir uma dieta estrita - mingau no café, frango ou peixe acompanhado por legumes e arroz no almoço e jantar, e nada de manteiga, leite ou gorduras animais - no começo de 2003. Ela se permite "trapacear" em certas tardes de sábado, comendo um sanduíche de queijo ou um doce.

No processo, Birath mudou seu estilo de vida, abrindo mão de muitas de suas posses e se dedicando a um amor pela pintura que ela cultivou desde que estudou arte, em sua juventude.
Ela diz que a venda de seus quadros garante o dinheiro necessário à sobrevivência, e que sua filha, Victoria, 27, e filho, Andreas, 20, a apóiam em sua nova carreira. O filho gosta de acompanhá-la em seu treinamento, mas Birath diz que ele muitas vezes se distende para levantar pesos semelhantes aos que ela usa.

Birath descobriu também que nem todo mundo aceita bem as suas novas escolhas. Continuam a existir certas percepções sobre os adeptos do fisiculturismo, ela afirma, e elas são difíceis de rebater, especialmente na Suécia, "onde as pessoas ficam desconfortáveis com a coisa".

Uma antiga colega de trabalho, depois de ver fotografias de Birath, disse que os dois primeiros pensamentos que lhe ocorreram foi imaginar se ela estava usando esteróides e se ela era lésbica.
"O mais difícil são as atitudes das pessoas", diz. "Sabe quando você tem um círculo constante de amigos? Subitamente deixei de ser convidada àquelas festas. Acho que eles me consideram estranha, mas na verdade não me importa".

Birath insiste em que ela não usa esteróides ou drogas que melhorem seu desempenho; diz que passou por testes em todas as suas competições, e que o uso de esteróides é muito mais freqüente entre os profissionais.

Birath afirma que não planeja se profissionalizar, em parte devido às despesas que o treino envolveria, e em parte porque começou tarde no esporte.

Até certo ponto, ela diz que não se importa com a maneira pela qual seja julgada nos torneios, já que está fazendo o que faz por seu bem-estar.

"Minha vida é muito melhor, agora", diz. "Parei de procurar emprego porque compreendi que não é o que quero. Agora, faço o que amo: pinto e me exercito".
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME

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