domingo, 8 de novembro de 2009

Humorístico "Pânico na TV" esquenta a briga pela audiência nos domingos

Na guerra pela audiência dos domingos à noite, o diretor do "Pânico na TV", Alan Rapp, tem uma estratégia clara: perder no começo para ganhar no fim. "A missão é fincar nossa bandeirinha no primeiro lugar, mesmo que a tirem depois", conta.

A tática vem surtindo efeito. Nas últimas sete semanas, o humorístico conquistou por alguns minutos (24, no máximo) a liderança do horário em que é exibido (aproximadamente, das 21h às 23h30 do domingo).

O "Pânico" é também responsável pelas duas maiores audiências da RedeTV! --aos domingos, com média de 11 pontos desde agosto, e nas reprises, às sextas, com oito pontos (um ponto equivale a 1% do total aproximado de domicílios com TV na Grande SP).


Eduardo Knapp/Folha Imagem
À frente, Alan Rapp, diretor do "Pânico na TV"; atrás, os humoristas Daniel Zukerman, Emílio Surita e Evandro Santo, num dos estúdios em que trabalham
À frente, Alan Rapp, diretor do "Pânico na TV"; atrás, os humoristas Daniel Zukerman, Emílio Surita e Evandro Santo

Essa tarefa, contudo, não é fácil. Além de competir pelo Ibope com o "Fantástico", na Globo, o "Programa do Gugu", na Record, e o "Programa Silvio Santos", no SBT, o "Pânico" tem que alavancar a audiência de sua própria emissora. O esportivo "Bola na Rede", que o antecede na grade, terminou no último domingo com três pontos no Ibope. Em menos de cinco minutos de "Pânico", a audiência já havia dobrado.

Ainda assim, o "Fantástico" segue com média acima de 20 pontos em 2009, confortável na liderança do Ibope. O "Pânico" vem disputando o segundo lugar com a Record e, aos poucos, cria vantagem sobre o SBT.

Mudanças

Sob a direção de Rapp desde maio de 2008, o programa passou por algumas alterações. Novos quadros foram adicionados, como "Amaury Dumbo" (interpretado por Carioca) e "Dicas com Marcos Chiesa" (similar ao "Jackass"). Outra mudança está na forma de conduzir o programa.

Rapp agora concentra merchandising e intervalos no horário inicial, ficando mais solto, quase sem comerciais, a partir das 22h. A metáfora que o diretor escolhe para a explicação é a do cavalo de corrida: "Nosso cavalinho sempre disputa o minuto a minuto. Para ir bem, precisa de cada vez mais matérias, é o alimento dele".

E o que come esse cavalo? "Nosso arroz com feijão são as matérias da dupla Vesgo (Rodrigo Scarpa) e Silvio (Wellington Muniz), da Sabrina Sato e do Christian Pior (Evandro Santo). A partir daí, vamos acrescentando mais coisas ao prato", revela Rapp.

Para Emílio Surita, apresentador do "Pânico", a atração hoje é quase um "Fantástico" de humor. "Nós acabamos cobrindo política, esportes, eventos", conta. Outro ponto que Surita considera favorável é o jeito espontâneo: "As pessoas olham e dizem: 'Eu poderia fazer isso'.".

Mônica Pimentel, superintendente artística da Rede TV!, considera que o programa --desde 1993 na rádio Jovem Pan FM, com estreia na TV em setembro de 2003-- começou a se consolidar em 2004 com as "Sandálias da Humildade", em que Vesgo e Silvio perseguiam celebridades que os esnobavam, como Jô Soares e Luana Piovani.

A diretora nacional de mídia da agência de publicidade F/ Nazca, Lica Bueno, considera que a estratégia do "Pânico" para alcançar o primeiro lugar pode ser incômoda para os anunciantes. "O anunciante compra um 'break' com base na audiência média do programa, mas tem sua campanha veiculada nos momentos em que o ibope é mais baixo". Bueno ressalta que anunciantes internacionais não gostam desse método.

Mestre e aprendiz

Como nos filmes de ação, o domingo à noite vive uma disputa entre um mestre e um aprendiz que tenta superá-lo. Rapp trabalhou com Homero Salles, atual diretor de Gugu na Record, no "Domingo Legal", do SBT, na década de 90.

"Aprendi muito com o Homero na análise da audiência em tempo real. Quando era assistente dele no SBT, estendíamos os números musicais conforme o ibope subia", diz Rapp.

Homero Salles, em seu Twitter, zomba das seguidas referências a cavalos feitas por Rapp: "Quando o Alan trabalhava comigo, eu o chamava de cavalo. Acho que traumatizou...", escreveu.

Desrespeito 'moleque'

Para Tania Montoro, professora da UnB, o "Pânico na TV" não representa bem a imagem feminina. Montoro diz que "o humor sempre serviu à naturalização de estereótipos de classe, de sexo e de gênero, e não há nada mais antigo do que juntar --para naturalizar-- sexo, política e entretenimento".

Eugênio Bucci, professor de jornalismo da USP, discorda: "O desrespeito 'moleque' do 'Pânico' é um traço comum aos humorísticos. Não dá para pensar em um formato como esse que seja edificante, pois zomba de tudo e de todos".

Bucci acredita que o diferencial da atual fase do "Pânico" é a esculhambação geral, a desmistificação do mundo das celebridades, sem que esse seja o objetivo do programa. "Ao fazerem uso do escracho, do jeito zombeteiro e sem cerimônias, mostram a baixaria, o ridículo que há nos outros."

O professor da USP destaca: "O 'Pânico', com uma renovação estética e a antecipação de tendências, está se credenciando para virar 'mainstream' --que observa o entorno para incorporá-lo depois". Contratados da Rede TV! até 2012, resta saber se o programa passará --e sobreviverá com graça-- por esse processo.

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