sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Baixo e Médio Madeira realizam Festa da Melancia



No próximo dia 15, a comunidade de Nazaré, distante cerca de 150 quilômetros de Porto Velho, realiza a 3.ª Festa da Melancia. Criada em 2007 o evento tem reunido moradores e amigos do Baixo e Médio Madeira para, em um tipo de confraternização, trocar idéias, experiências e descontrair junto com a família.
Localizadas às margens do Rio Madeira, as comunidades da região do Médio e Baixo Madeira, vivem uma vida simples e ainda preservam hábitos e culturas tradicionais da região, advindas com a extração de borracha, na metade do século, XIX. Sem uma população fixa, em 1877 a região torna-se sede da empresa extrativista Calama S/A., de propriedade do espanhol Manoel Antonio Parada Carbacho, que acabou dando o nome à uma das vilas que então surgiria. A empresa era detentora de mais de dois milhões de hectares de seringais às margens dos Rios Ji-Paraná e Madeira, concedidos por Dom Pedro II, imperador do Brasil1. O povoado tinha um porto movimentado, sua população aumentava e se consolidava.
No início do século XX a desvalorização da borracha no mercado internacional, trouxe grave crise econômica para a Amazônia, levando Calama à estagnação. Com a segunda guerra mundial e a revitalização dos seringais a região volta a ver a sua economia crescer. Com o fim da Guerra, em 1945, o preço da borracha cai novamente e a população local passa a sobreviver da pesca artesanal e da agricultura de subsistência e dá início às novas vilas na região.
Formada pelos distritos de São Carlos, Terra Caída, Demarcação, Cuniã, Curicaca, Ilha de Iracema, Santa Catarina, Tira Fogo, Ressaca, Nazaré, Papagaio e Calama, entre outras, a distancia que as separa dos grandes centros não as deixa menos capazes para produzir com qualidade e eficiência alimentos que abastecem a região e até capitais como Porto Velho, em Rondônia e Manaus, no Amazonas.
Lá são produzidos alimentos como arroz, feijão, milho, mandioca, abóbora, banana, laranja, mas frutos como o açaí e a melancia surgem como alternativa de renda para a região. Exemplo disso é Francisco do Rosário Dantas, pescador que há 25 anos planta melancia por incentivo de colegas.”prum 'cabra' que nem eu, que não estudei muito e, mexo com peixe (...) a melancia pra mim é quando eu consigo pegar um dinheirinho a mais”, diz.
O plantio de melancia como produção em escala e acompanhamento técnico foi iniciado mesmo em 2004, quando a Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater), já instalada na região começa a prestar serviços. “Os produtores não tinham nenhum acompanhamento técnico, plantavam por conta e perdiam muito, pois falta o manejo. Aí nos chegamos, vimos essa dificuldade e os convidamos para participar de reuniões, cursos, capacitação, para eles virem a melhorarem a qualidade de produção”, diz, Clébio Lima Barreto, técnico florestal da Emater, que na época gerenciava o escritório em Nazaré.
O trabalho feito na roça é manual. Com solo argiloarenoso, enriquecido pelos dejetos advindos da Cordilheira dos Andes, formando o solo de aluvião, ali são plantadas as sementes de melancia de característica oval alongada, uma exigência da população amazonense. Mas também está sendo incentivada o plantio da variedade mais arredondada, que, segundo Marivaldo Cavalcanti de Lima, gerente da Emater em Calama, é mais lucrativa para a região de Porto Velho.
A produção em 2007 chegou a 500 toneladas de melancia. Dantas conta ter tirado, só na primeira colheita do ano passado, 400 melancias, mas para o agricultor Antônio Fernandes Carvalho “dá para tirar umas duas mil, na safra toda”. Para Clébio a produção inicial já era significativa, mas aumentou depois da orientação dos técnicos da Emater. ”Cada ano a produção está aumentando mais, hoje está em torno de 15% a 20 % mais que a primeira”, diz.
Para elevar a produção, melhorar a qualidade do produto e incrementar a comercialização, a Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e da Regularização Fundiária (Seagri), inclui a melancia no programa de distribuição de sementes e, através da Emater, fornece semente qualificada para os agricultores do Baixo Madeira. Este ano foram distribuídas 430 latas de 100 gramas e 140 latas de 250 gramas de sementes das variedades crimson sweet, que é a melancia mais arredondada, e fairfax (sementes pretas).
Com o incremento à produção a região já pode ser considerado hoje, um pólo produtor de melancia, mas ainda existe uma preocupação muito grande quanto à comercialização do produto. O acesso às comunidades do Baixo e Médio Madeira continua sendo apenas via fluvial. Na seca chega a ser até 10 horas de barco de linha entre Porto Velho e Calama, região mais distantes com quase cerca de 300 quilômetros da Capital. E o retorno pode variar entre 12 e 18 horas, dependendo do dia e das condições do Rio.
A distância dos centros comerciais dificulta a comercialização e os produtores reclamam do frete e dos atravessadores que só pagam o preço mínimo. Segundo Carvalho eles poderiam vender na Feira livre, mas por causa dos outros feirantes a fiscalização da Prefeitura não permite. Outro agricultor, Gabriel Quinto da Silva reclama de não ter uma pessoa certa para vender e diz: “Levar para Porto Velho é por sorte, se for uma melancia bonita, chegar numa época, num dia que não tem muita melancia a gente vende num preço melhor, mas chega lá, chegou, tem 5, 6, 10 melancia, ai vende num preço bem baixo, não tem comprado certo, né”?
O presidente do Conselho das Associações e Cooperativas do Médio e Baixo Madeira (Conacobam) e secretário de finanças da Cooperativa Agroextrativista do Médio e Baixo Madeira (Coomade), José Wilson de Melo explica que os ribeirinhos não tem uma casa de apoio, um local para depositar seus produtos “Tem um mercado publico lá, mas também não tem uma estrutura que eles possam ficar vendendo, então, tem uma forma, a melhor forma que a gente encontrou na discussão com eles é de formar a cooperativa”.
A Coomade tem sido o elo de negociação entre agricultor e comprador e vem tentando negociar preços melhores para eles. “Não é uma coisa certa, a gente ta vendo uma forma que talvez isso aí venha mudar em mais uns 50%, diferença do que eles vendem hoje”, diz Melo.
Outra preocupação dos agricultores do baixo e médio madeira está no transporte de seus produtos aos grandes centros comerciais. Dantas conta ter ficado vários vezes na barranca esperando o barco para levar a melancia e quando o barco passou não levou “A gente fica até meio nervoso mesmo, vê na hora perder”.
O Governo Estadual, através da Seagri e da Emater tem viabilizado o transporte para ajudar os ribeirinhos do baixo e médio madeira a comercializarem seus produtos em Manaus. “Já estamos providenciando o aluguel da embarcação para o transporte até Manaus”, diz Sorrival de Lima, secretário executivo da Emater.
A produção de melancia tem grande parcela de responsabilidade no aquecimento econômico da região e a produção local supera em muito a produção em outros estados. Em condições normais seu peso varia entre 10 e 20 quilos de pura água. Na região do Médio e Baixo Madeira a fruta vai muito além desse peso. Mas as pessoas precisam saber que aqui se produz melancia. Assim, em 2007, foi criada a primeira Festa da Melancia.
Clébio conta que na época como a produção de melancia era grande e como forma de incentivar mais plantio, um agricultor teve a idéia de fazer uma confraternização entre aqueles que plantavam melancia e pediu ajuda da Emater.
Francisco Romão do Nascimento, presidente da Associação dos Moradores, Produtores e Amigos do Distrito de Nazaré já considera a festa como um marco para a história de Nazaré, onde todos podem usufruir não só da delicias feitas de melancia, mas também da companhia de pessoas que tem muita história para contar “É o momento de lazer e também de encontrar os amigos e discutir idéias”, diz.
Hoje, já consolidada a Festa da Melancia está ganhando força e fama e Nazaré já se prepara para em 15 de agosto receber visitantes não só das margens do Rio Madeira, mas de Porto Velho e até de outros municípios.

Wania Ressutti

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