sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

“Ninguém sabe a pressão que é jogar hoje no Palmeiras. Não quero segunda chance.” Maurício

david

Ele foi moldado por 11 anos nas categorias de base do Palmeiras.

Foi campeão e várias vezes convocados para as jovens Seleções Brasileiras.

Teve proposta do Corinthians, do Santos e do São Caetano para deixar o Palestra Itália.

Disse não.

Tinha a certeza de que se firmaria como zagueiro profissional do Palmeiras.

Foi esse o seu pensamento fixo por 11 anos.

A aposta da sua mãe, auxiliar de cozinha.

Ela apostava tudo no caçula dos cinco filhos que criou sem marido.

Pois bastaram 30 segundos.

A discussão com Obina, os palavrões e as tentativas de socos na partida contra o Grêmio.

E o sonho acabou.

Veio a demissão, a promessa dos dirigentes que nunca mais ele vestiria de novo a camisa do Palmeiras.

Essa é a situação do zagueiro Maurício. 20 anos.

“Olha, Cosme. Vou ser sincero. Ninguém sabe a pressão que é jogar hoje no Palmeiras. Não quero segunda chance.

Chegaram mais de dez propostas e eu vou trocar de clube. Adoro o Palmeiras, mas o que aconteceu foi pesado demais”, dissem em entrevista exclusiva ao blog.

Maurício: por que o clima no Palmeiras é tão mais pesado que os outros clubes?

A pressão é enorme por um fator muito simples: pressão da investidora e do clube. Junta a necessidade de o time ganhar por causa dos 16 anos sem títulos no Brasileiro mais a necessidade de Traffic ganhar dinheiro. A coisa se complica ainda mais com a torcida cobrando de uma maneira exagerada. A agressão ao Vagner Love foi muito triste. Jogar no Palmeiras hoje em dia é muito mais difícil do que qualquer clube. O jogador fica exposto a toda essa pressão. Não foi por acaso que eu acabei brigando com o Obina. O clima entre nós, atletas, acaba sendo pesado demais. Todos se gostavam, mas estava claro que uma hora iria explodir toda essa tensão. E sobrou para mim que mal comecei a minha carreira.

Já te perguntaram mil vezes. Mas agora sera a milésima primeira vez. Por que você brigou?

Olha, agora que passou um pouco o tempo, posso analisar com calma. Foi uma vontade exagerada de o Palmeiras ganhar. No lance eu pedi para o Obina cortar a bola e ele entendeu deixar. Não compreendi a reação dele no lance e fui cobrar. Errei ao gritar. Nós dois começamos a nos xingar e quando vimos estávamos tentando dar socos um no outro. Uma loucura. Tudo isso porque queríamos acertar. Não foi sacanagem. Eu sou um dos caras mais calmos do elenco. E o Obina também. No vestiário, quanto todos subiram para o segundo tempo, nós nos olhamos e pedimos desculpas um para o outro. Ele me perguntou: justo com você que é tão calmo? Pois é. Eu e o Obina somos dois caras da paz, sossegados. Foi uma tristeza, uma bobeira. Ficamos arrasados com a demissão do Palmeiras.

Como foi a demissão?

O Toninho (Cecílio, gerente) e o Gennaro (Marino, diretor) foram ao vestiário depois do jogo e disseram que eu e o Obina estávamos demitidos. Que nunca mais iríamos jogar no Palmeiras. Eu fiquei chocado, arrasado. Tudo que havia sonhado tanto tinha acabado antes de começar. Sou um zagueiro de 20 anos. O Palmeiras investiu onze anos na minha formação como atleta. Cheguei várias vezes às Seleções Brasileiras de base graças ao clube. Respeito a decisão, mas foi muito dura. E eu quero falar que o Obina também ficou arrasado. Nós dois queríamos muito o bem do Palmeiras.

Qual foi a sua reação e a reação do grupo?

Eu tentei segurar, mas chorei muito no ônibus. Saindo do estádio Olímpico até o hotel, só conseguia chorar. Não acreditava que a minha carreira no Palmeiras tinha acabado. Quando cheguei no meu quarto, os vários jogadores foram me consolar. Eram tantos que eu nem sei. Lembro bem do Marcão, zagueiro, do Pierre, do Vágner Love, o Edmílson. Todos tentando me dar força. E eu demitido, chorando e me achando responsável por tudo de ruim que estava acontecendo no Palmeiras. O time foi muito companheiro, muito unido. Sabia que eles iriam pedir a minha volta ao grupo. Só tenho boas lembranças de todos os jogadores. Principalmente do Obina. Ele ficou muito abalado por mim. Disse que não queria me ver longe do clube.

Como ficou a sua situação legal?

Os dirigentes voltaram atrás. Não me demitiram por justa causa. Tenho contrato até 2012. Sinceramente? Acho que eles querem lucrar alguma coisa comigo. A minha multa contratual é de R$ 25 milhões. Sinal que acreditavam no meu futebol. Surgiram pelo menos dez clubes interessados em me levar. Tenho ouvido que o Palmeiras fixou meu preço em R$ 5 milhões. Pode ser que eu vá emprestado. Falei uma coisa para o meu empresário Márcio Rivellino: não quero ficar em São Paulo. Prefiro atuar em outro estado. (Dois clubes interessados são o Atlético Mineiro e, ironia, o Flamengo de Obina.)

Você não quer uma segunda chance no Palmeiras?

De jeito nenhum. Sei que toda a diretoria é séria, trabalha duro, mas não há condições psicológicas para eu voltar a jogar pelo Palmeiras. O que aconteceu foi feio demais. Eu quero ir para outro lugar. O Palmeiras que utilize outros zagueiros. Quem sabe, daqui uns cinco anos, quando todos tiverem esquecido, eu volte. Mas agora, não. Não quero. Desejo tudo de bom para o Palmeiras. Que ganhe tudo o que disputar. Mas eu não vou ficar mais nesse clube. É bom para todos.

O que aconteceu com você deixa claro por que é tão difícil um jogador da base ter chances no Palmeiras?

Sinceramente? É sim. O importante é o clube dar resultado agora. Não há paciência com quem vem da base. O clube precisa vencer e a investidora tem de ganhar dinheiro. Vender jogadores para fora. Então, investe em atletas de outros clubes. Infelizmente é assim mesmo. Meu grande exemplo é o David que está no Flamengo. Ele foi meu companheiro de zaga nas categoria de base do Palmeiras. A gente jogava bem demais. Ele acabou tendo de sair do Palmeiras. Foi embora como vilão (entrou na justiça por alegar que seu contrato seria de gaveta, assinado muito tempo antes de virar profissional). Ele saiu como errado e não sei se foi assim tão errado. Mas vou ser claro: sair dos juniores e ganhar um lugar no time do Palmeiras, patrocinado pela Traffic, é muito, mas muito difícil.

E o mais irônico é que você teve propostas de vários clubes enquanto estava na base. Poderia ter ido embora de graça…

É verdade. Mas fui fiel ao Palmeiras. Poderia ter ido para o Corinthians, para o Santos. Para o São Caetano. Mas sempre disse não. Muitas vezes minha mãe não tinha dinheiro para a minha passagem de ônibus. E ela tirava da comida dela. Era auxiliar de cozinha. Criou a mim e aos meus quatro irmãos sozinha, sem marido. Mesmo assim, eu recusei as propostas dos outros clubes. Queria ser jogador profissional do Palmeiras. Esperava o reconhecimento do Palmeiras. Queria ficar anos no Palmeiras. Mas tudo bem. Vou seguir a minha vida. E mostrar que não sou um bad boy, um brigão. Pena que onde joguei por 11 anos as pessoas não souberam reconhecer. Mas também, tudo bem. Não quero segunda chance. Jogar no Palmeiras de novo não…

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