terça-feira, 24 de março de 2009

Desemprego sobe, Lula cai

De acordo com o Datafolha, menos da metade das pessoas (43%) aprova as medidas do governo contra a crise, mas bem mais da metade (65)% ainda avalia Lula como bom e ótimo. De certa forma, há um descolamento de Lula da gestão da crise, mas...
Os dois índices somados mostram que Lula já não está assim tão imune aos efeitos da crise como os governistas e assessores alardeavam e a gente em geral achava. Na pesquisa anterior do mesmo Datafolha, o índice de aprovação às medidas era de 49% --portanto, caiu 6 pontos-- e a popularidade de Lula estava em estratosféricos 70% --portanto, caiu 5 pontos. O que não é pouco. Aliás, no Ibope a queda foi ainda maior, de 9 pontos.
Sinal de que a imagem do governo está sofrendo com a crise e os efeitos diretos dela sobre a economia real e principalmente sobre os empregos. Veja como coincidem os índices de desemprego e a queda de aprovação às medidas de governo e ao próprio Lula. Da última pesquisa até agora, o país perdeu quase 800 mil empregos, enquanto Lula perdia 5 pontos (Datafolha) ou 9 (Ibope). Ou seja: o desemprego sobe, Lula cai. Simples assim.
Simples assim para você, cara pálida, porque para os governistas, assessores, o próprio Lula e principalmente a Dilma, isso deve ser um deus-nos-acuda. Ou, numa outra imagem: Lula chamou a crise no Brasil de "marolinha", mas o efeito político dela com certeza está sendo encarado como um "tsunami".
O governo vai reagir, e isso muda muito o espírito das decisões, que tendem a ser cada vez mais políticas. Na hora de decidir, Lula, seus ministros e todos os que trabalham a candidatura Dilma tendem a balancear as indicações técnicas com os interesses políticos, para responder a uma perguntinha básica: o que é melhor para Lula hoje e para Dilma em 2010?
U m exemplo de decisão política é o que ocorre com a Petrobras e o preço da gasolina.
Quando o preço internacional do petróleo batia em quase US$ 150 o barril, os acionistas da Petrobras pressionavam por subir também o preço interno da gasolina, por uma questão óbvia de mercado. Mas o conselho da companhia (do qual Dilma faz parte, aliás) não deixava.
Agora, com o petróleo desabando para cerca de US$ 50, há uma inversão: o lado político da Petrobras quer baixar o preço interno da gasolina, mas os acionistas não deixam. Por quê? Porque têm de compensar, ou equilibrar, os tempos de petróleo alto/gasolina baixa. O resultado é que a gasolina no Brasil é, neste momento, uma das mais caras do mundo.
Quer fazer uma aposta? Logo, logo vem aí anúncio de redução de preço nas bombas. Com queda de popularidade e queda de aprovação às medidas anti-crise, o governo vai manter o preço assim? O que você acha?
Bem, a crise veio dos EUA, atingiu a Europa em cheio, arrasou alguns países, como a Islândia, e está aqui, dentro da economia e pairando sobre a política brasileira. A crise é ruim e ninguém quer e gosta, principalmente porque estoura sempre no lado mas fraco. Mas o sacolejo na política é bom. Serve para uns e outros pararem de cantar de galo e a discussão política ser mais equilibrada, mais viva, com mais conteúdo e menos forma.
Isso vale, sobretudo, para a campanha antecipada de 2010. Tem de deixar de ser festa para ser momento de debate e reflexão.

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