quarta-feira, 8 de outubro de 2008

BCs mundiais tentam impedir recessão global com corte emergencial de juros

Diante da corrida acelerada para baixo das finanças mundiais, e sob o risco de que essa corrida leve a uma recessão global, seis dos principais bancos centrais do mundo decidiram, em caráter emergencial, reduzir nesta quarta-feira suas taxas de juros. A medida, adotada depois de meses de injeções diárias de dinheiro, mostra que os governos mundiais estão ficando sem munição para combater uma crise que ameaça ser de escala vista apenas em 1929, na Grande Depressão.
Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), a expectativa com a crise é de que a economia mundial cresça 3,9% em 2008 e 3% em 2009 --o menor nível em sete anos. A região da América do Sul e México deve crescer 4,6% agora e desacelerar para 3,1% em 2009, estimou o fundo.
Contra a possibilidade de paralisação das economias e a circulação de dinheiro, se mobilizaram hoje o Federal Reserve (Fed, o BC americano), Banco do Canadá, Banco da Inglaterra (BC britânico), BCE (Banco Central Europeu), Sveriges Riksbank (da Suécia) e SNB (Banco Nacional da Suíça, na sigla em inglês).
Em um comunicado, o Fed informou que reduziu sua taxa em 0,5 ponto percentual (p.p.), para 1,5%. "Algum afrouxamento nas condições monetárias globais é, portanto, necessário", informou o Fed, em um comunicado. Ontem, o presidente do banco, Ben Bernanke, disse que o cenário econômico dos EUA piorou e que a política de manutenção da taxa de juros seria avaliada para conferir se "continua apropriada".
Kirsty Wigglesworth/AP

Royal Bank of Scotland é um dos bancos que será ajudado pelo plano do Reino Unido
O BCE (Banco Central Europeu) e o Banco da Inglaterra (BC britânico) também reduziram as taxas em 0,5 p.p., para 3,75% e 4,5%, respectivamente. O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, disse que o corte dos juros servirá para garantir aos cidadãos que "estão sendo tomadas todas as ações" para permitir que a atividade econômica "se movimente para frente".
Brown já havia se dirigido aos mercados hoje, ao anunciar um plano de resgate de 50 bilhões de libras (cerca de US$ 87 bilhões) aos moldes do pacote dos EUA, para evitar que os bancos do Reino Unido tenham destino semelhante ao do Lehman Brothers, que quebrou no dia 15 do mês passado e marcou o início do segundo ciclo da crise, iniciado no ano passado.
O Fed e outros bancos têm colocado no sistema financeiro bilhões de dólares nos últimos meses. O BCE tem feito injeções quase diárias de US$ 50 bilhões para garantir as transações entre os bancos. Em ações coordenadas, os bancos também têm feito ofertas bilionárias para o sistema bancário: no dia 29 de setembro, dez BCs anunciaram uma oferta de US$ 620 bilhões em liquidez [oferta de dinheiro]; ontem, em nova ação conjunta, outros seis BCs anunciaram leilões de US$ 450 bilhões até o fim do ano para garantir que não ocorra falta de dinheiro.
Ontem, a UE (União Européia) se comprometeu a socorrer e dar apoio a grandes grupos financeiros para evitar uma crise generalizada, segundo anúncio feito pelo vice-ministro de Finanças da Alemanha, Joerg Asmussen. Instituições européias como o alemão Hypo Real Estate, o belgo-holandês Fortis e o franco-belga Dexia já passaram por problemas e receberam ajuda dos respectivos governos.
Katsumi/AP

A Bolsa de Tóquio, derrubada pela crise, teve queda de 9,38%, a maior desde 1987
A ação governamental de maior vulto, até o momento, é o pacote de US$ 700 bilhões proposto pelo governo americano e aprovado na semana passada pelo Congresso. O objetivo do governo é tentar retirar do mercado títulos "podres" (de baixíssima probabilidade de resgate, ou seja, se alto risco de calote), a fim de tentar restaurar a confiança no mercado financeiro.
As ações até o momento, no entanto, surtiram pouco efeito. A Bolsa de Tóquio caiu hoje a níveis vistos apenas em 1987; a Bolsa de Valores de Nova York caiu ontem abaixo de 5% no índice Dow Jones Industrial Average. Na Europa, as Bolsas caem, com exceção da Bolsa de Londres, devido à ação do governo britânico; Na Rússia, no entanto, depois de cair 14% logo no início do dia, os negócios foram suspensos e só devem ser retomados na sexta-feira.
Bush
Ontem, em um pronunciamento pouco comum --feito durante uma visita a uma empresa de materiais de escritório, no qual respondeu a perguntas de funcionários--, o presidente George W. Bush voltou a afirmar sua confiança na recuperação da economia, com a aprovação do pacote de US$ 700 bilhões, vendido por ele, pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e por Bernanke, como a solução final para a crise.
Mike Theiler /Efe

O presidente George W. Bush disse que fará o necessário para conter crise econômica
"Não há dúvida de que estamos em um tempo difícil", mas "o que for necessário será feito", disse Bush --que reconheceu também que a crise não é apenas dos EUA, mas atinge o mundo todo. "As pessoas precisam se dar conta de que a crise representa um problema sério não só para os EUA, mas para o mundo inteiro", disse.
A aprovação do pacote foi precedida de alertas de recessão e previsões dos piores cenários econômicos possíveis. Bernanke, que foi chefe dos conselheiros econômicos da Casa Branca, disse aos congressistas em um testemunho dias depois da apresentação da primeira versão da medida, que, sem ela, "empregos serão perdidos, nossa taxa de crédito vai aumentar, mais despejos vão ocorrer, o PIB [Produto Interno Bruto] vai contrair e a economia não vai conseguir se recuperar de um modo normal, saudável".
Brasil
No Brasil, a contração do crédito é o principal reflexo da crise financeira. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a situação atual reflete um "momento de irracionalidade" do mercado financeiro.
Como medida preventiva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na segunda-feira uma medida provisória que concede ao Banco Central poder para adquirir carteiras de empréstimos de bancos no Brasil através do mecanismo conhecido como redesconto.. O mecanismo já existe hoje, mas é utilizado apenas para dar liquidez aos bancos no curto prazo. A decisão ainda depende de autorização do CMN (Conselho Monetário Nacional).
Jamil Bittar/Reuters

Mantega (Fazenda) diz que momento no mercado financeiro é de "irracionalidade"
O governo brasileiro também anunciou na segunda que vai utilizar parte do dinheiro das reservas internacionais para garantir crédito em dólares para os exportadores brasileiros e ajudar a diminuir a pressão sobre o câmbio --o dólar hoje registra alta, tendo chegado a R$ 2,45.
Mantega classificou a situação de passageira. "Nós estamos no momento mais agudo dessa crise. Ela tem mais de um ano, mas se aprofundou nesse momento, que é quando se revelam os ativos podres dessas empresas", afirmou.
O ministro afirmou que há uma perda de confiança nas instituições financeiras, mas que não há problemas de solvência no Brasil. "Aqui não há ativos podres, embora estejamos sofrendo um problema de liquidez por causa desse estrangulamento no crédito internacional. E o governo está tomando as medidas adequadas para garantir que essa liquidez continue fluindo."

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