Jeffry Life, aos 67 anos, após dois anos tomando hormônios. Saúde? (Foto: Divulgação)
É uma daquelas fotos que exigem uma segunda olhada. O Dr. Jeffry Life, sem camisa, está usando apenas calças jeans. Seu rosto é o de um vovô respeitável: poucos cabelos, e os que restam estão todos brancos. Mas seu corpo de 69 anos parece o de um sujeito musculoso de apenas 30 anos.
A foto aparece com freqüência em anúncios do Instituto Médico Cenegenics, clínica de Las Vegas (EUA) que se especializa em "gerenciamento de idade", um campo crescente numa sociedade obcecada em permanecer jovem. Life, que jura que esse é o seu verdeiro sobrenome ("Vida", em inglês), também tem um quadro com a foto em seu escritório na Cenegenics.
"Esse é o cara!", diz o paciente Ed Detwiler, apontando para a foto do médico que virou sua grande inspiração. Detwiler, de 47 anos, é paciente de Life há mais de três anos. Nesse meio tempo, ele adotou os mesmos procedimentos seguidos pelo especialista -- mudando drasticamente seus hábitos alimentares e atividade física, recebendo injeções diárias de hormônio do crescimento humano e injeções semanais de testosterona (hormônio sexual masculino).
Ele segue as recomendações porque elas o fazem se sentir melhor, mais cheio de energia e com a mente mais ativa. E também porque quer viver uma vida longa e saudável. "Se eu ficasse curvado e preso à cama, que tipo de qualidade de vida seria essa?", pergunta Detwiler, empreiteiro do subúrbio de Las Vegas que diz estar fazendo isso, em parte, por causa da sua mulher, que é nove anos mais nova. "Se eu conseguir ser ativo, viajar, conhecer o mundo e fazer alguma diferença na vida na vida das pessoas, então é claro que eu gostaria de ter uma existência tão longa quanto possível."
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É um sentimento comum numa sociedade onde muitos lutam para parecer e se sentir várias décadas mais jovens. Mas freqüentemente é preciso alguma ajuda. Às vezes, muita ajuda. O uso do Botox e de vários tipos de hormônio se tornou um negócio enorme -- só a venda do hormônio de crescimento humano aumentou 6% no ano passado.
A lista de táticas para desafiar a idade é inifinita. Quer um abdômen de "tanquinho"? Há um procedimento cirúrgico para criar uma barriga dessas, só que falsa. E quanto a cortar drasticamente a ingestão de calorias para retardar o envelhecimento? Há um grupo de fanáticos que jura que isso funciona.
Testículos de tigre
"Essa busca pela juventude eterna certamente não é nova. "No ano 1500 a.C., as pessoas já estavam ingerindo testículos de tigre para tentar rejuvenescer", diz Gene Cohen, especialista em envelhecimento da Universidade George Washington. Mas, para uma geração de adultos que cresceu com a mensagem do marketing moderno -- a de que, por um preço, você pode ter tudo --, a busca está ganhando nova urgência.
Claro que vale a pena se cuidar. Comer coisas saudáveis, exercitar o corpo e o cérebro regularmente -- são coisas consideradas seguras para continuar jovem. Proteger-se dos raios solares nocivos também vale a pena. Até usar o fio dental é um hábito que, de acordo com pesquisas envolvendo pessoas que vivem até os 100 anos, pode estender a vida. Mas é aí que o consenso normalmente acaba.
Muitos dos médicos convencionais demonstram preocupação com o fato de que estamos com a cabeça muito focada em tratamentos com benefícios de curto prazo, mas que têm efeitos colaterais potencialmente perigosos e pouca ou nenhuma evidência de que ajudarão no longo prazo.
"A busca pela vida eterna e o desejo de evitar doenças e não sofrer" é compreensível, diz S. Jay Olshansky, professor de saúde pública e pesquisador da Universidade de Illinois em Chicago. Mas pode deixar as pessoas vulneráveis a picaretagens malucas e potencialmente perigosas. As mais bizarras incluem injeções de células fetais, inalação de gás radônio e até extirpação dos testículos, antiga prática usada para reduzir a exposição excessiva a hormônios reprodutivos.
"Há uma enorme indústria de pessoas tentando vender o que não existe, e elas estão fazendo rios de dinheiro com isso -- para o desespero dos que, como nós, tentam proteger a saúde pública", afirma ele. Também há a preocupação de que essa idéia fixa esteja mandando mensagens erradas às gerações mais jovens. Pesquisas mostram que um número considerável de pessoas na casa dos 20 anos estão se submetendo a cirurgias plásticas, por exemplo.
Pior ainda, levantamentos feitos com adolescentes indicam que um quarto dos jovens entre 12 e 19 anos (e um terço das meninas com essa idade) têm interesse em fazer plásticas para melhorar sua aparência.
Michael Wood, vice-presidente do TRU, instituto responsável pela pesquisa, se diz um pouco assustado com os resultados.
"Não há dúvida de que a celebração da juventude e da possibilidade de parecer mais novo certamente ganharam força nos últimos dez anos, até cinco anos", diz Wood. "E isso é de uma geração que está crescendo com isso ainda muito jovem."
Efeito palpável
O efeito é palpável, diz Neil Howe, um especialista respeitado que escreveu muito sobre os "milenares", jovens que estão atingindo a puberdade neste século.
"Acho que até jovem não é mais suficiente", diz Howe. "Tem que ser jovem e 'perfeito'."
Alex Sabbag, 23, mora em Chicago e sentiu a pressão, tanto de si mesma como da sociedade.
"Vou envelhecer até atingir os 25. E depois, chega", disse ela a colegas durante uma conversa de almoço que passou ao tópico do Botox.
Ela estava sendo apenas parcialmente séria. Mas diz também ter aceitado que vivemos numa sociedade em que estar bem de aparência e jovem dá status.
"Todos vamos embarcar nessa", diz Sabbag. E cirurgias plásticas e outros procedimentos cosméticos são parte disso.
Ela nunca fez nada em seu corpo, embora não descarte para o futuro. Ela também lembra vividamente como sua mãe saiu de casa por vários dias, quando Sabbag estava na escola primária, e voltou depois de uma plástica facial.
"Acho que isso dá à mulher e ao homem muita confiança, que acaba tornando-os pessoas melhores", diz Sabbag. "Sim, é uma prática vã... mas eu acho que chegam um ponto para as pessoas em que trabalho duro não é suficiente para chutar os últimos gramas de gordura na barriga ou a gravidade se tornou invencível, e então um retoque na testa precisa acontecer."
Detwiler, o paciente de Life na Cenegenics, não está buscando a aparência da juventude. Ele quer ampliar sua juventude e sua vida.
Ele sabe sobre o hormônio de crescimento humano e suas controvérsias no esporte. Mas isto, ele e seu médico dizem, é diferente. Embora seja ilegal usar esses hormônios para propósitos anti-envelhecimento, ele toma doses relativamente pequenas, prescritas por "deficiência hormonal". A idéia é trazer os níveis de volta aos de um jovem, aos 20 e poucos anos.
"Meus amigos dizem, 'Oh, Ed está tomando esteróides'", diz Detwiler, que tem acompanhado conforme músculo substitui gordura em sua barriga e em outros lugares. "Não, não estou. Olhe para mim. Parece que eu estou tomando esteróides?"
Ele faz um muque para indicar que seu corpo está em forma, mas não é monstruoso. "Não estou. Estou tomando terapia hormonal", diz, referindo-se a um programa que custa mais de US$ 1.000 (R$ 2.500) por mês.
Além de hormônio do crescimento humano, testosterona e um hormônio adrenal conhecido como DHEA, sua dieta agora consiste basicamente de coisas como ovos cozidos, frutas, castanhas, iogurte, saladas e filés de peixe, franco ou carne com pouca gordura. Ele também se exercita regularmente, alternando entre trabalhos cardíacos e treinamento de levantamento de peso.
"Não posso dizer em palavras o quanto me sinto bem", diz o homem que costumava precisar de uma Pepsi para atravessar cada dia.
Fome de beleza
Para um grupo conhecido como Sociedade de Restrição de Calorias, a juventude não é encontrada nos hormônios. É reduzir o consumo de alimento, em alguns casos, até níveis próximos da inanição.
Mas os benefícios são basicamente os mesmos -- "muita energia" e sentir-se "afiado", diz Brian Delaney, um escritor californiando de 45 anos que agora vive na Suécia. Ele é presidente de um grupo que afirma ter 2.000 membros no mundo todo e muito mais seguidores que usam o método na esperança de aumentar significativamente sua longevidade.
Ao cortar calorias para ficar com 1.900 diárias, cerca da metade do que é recomendado para alguém com sua altura e idade, e fazendo exercícios diariamente, Delaney emagreceu até atingir cerca de 70 kg. Ele diz que a pressão sangüínea, o colesterol e os níveis de açúcar no sangue melhoraram dramaticamente.
Com 1,77m ele admite estar "mirrado", o que ele aponta como o principal problema.
Já a fome ou ter de vestir mais roupas para permanecer aquecido -- por causa da pouca gordura corporal ou, segundo ele, um efeito do envelhecimento desacelerado -- não incomodam muito Delaney.
Ele diz que come com sensatez, substituindo junk-food com muitas frutas e vegetais, sem carne, e duas refeições diárias -- sem almoço. Café-da-manhã é normalmente uma "porção generosa" de granola, com fruta, castanhas e leite de soja; já o jantar pode ser peixe, arroz, feijão e uma grande salada com vinho tinto.
Além de "toneladas de pequenas rugas", que ele atribui a muito sol quando criança, Delaney diz que na maioria dos atributos, ele se parece "muito mais jovem" que 45.
É um elogio que muitos buscam.
"Quando éramos mais jovens, falávamos sobre alguém que tinha 60 e era velho. E agora minha academia é cheia de mulheres com mais de 60 e parecem fenomenais", diz Rennee Young, uma executiva de 48 anos em New Rochelle, Nova York. "Elas não querem ser categorizadas como velhas."
Mas há mais do que isso aí. A juventude, ela diz francamente, também significa sobrevivência no mundo dos negócios, inclusive em sua linha de trabalho -- relações públicas.
"Ninguém quer sentir que sua aparência significa que sua habilidade de fazer algo diminuiu", diz Young. "Se você tem uma aparência mais jovial, você se sente mais saudável. Você sente que ainda está no jogo."
Em sua cabeça ressoa o fato de que sua própria mãe morreu quando tinha só 56 anos.
Por isso, cinco ou seis manhãs por semana, mesmo quando ela preferiria colocar as cobertas sobre a cabeça, Young se levanta e gasta duas horas na academia.
É mais que o dobro recomendado diariamente para saúde perfeita. E ainda assim, para ela, não era suficiente. Recentemente Young gastou cerca de US$ 20 mil (R$ 50 mil) no abdômen, porque, como ela diz, não há abdominais suficientes que vão fazê-la tão magra quanto ela gostaria de ser.
O resultado foi uma reforma em sua forma de ver a si mesma.
"Assumi um compromisso neste verão. Se eu fosse passar por todas essas cirurgias, então teria de ser parte de um programa completo", diz Young, que também está ganhando mais descanso e comendo de forma mais saudável.
"Eu posso com certeza ver o resultado." Ela, também diz que não se sente tão bem assim faz anos.
Fazendo dinheiro com a beleza
Usar um procedimento cosmético como motivador é válido, e lucrativo, para dizer o mínimo, afirma Jonathan Lippitz. Ele é um médico plantonista dos subúrbios de Chigado que faz procedimentos cosméticos, como Botox, numa atividade à parte.
Mas também é um "declive escorregadio", em que pacientes muitas vezes querem correr mais riscos do que deveriam, e alguns médicos vão aceitar.
"Eles sempre vão achar alguém disposto a fazer isso", diz.
Em sua própria atividade, ele diz que se vê continuamente caminhando uma fronteira tênue entre os procedimentos que ele vai fazer e os que ele não vai.
"Nós todos dizemos, 'quero meu cabelo diferente. Quero meus olhos diferentes'", diz Lippitz. "Essa idéia de ser perfeito é um problema, porque não é realidade. Eu tenho essas pessoas que vêm e dizem, 'Eu quero esses lábios'. Eu digo, 'Não tem como você ter esses lábios'. Eu digo, 'Vamos trabalhar com o que você tem'."
Mas e se o que eles têm já está bom? Essas são as questões que perturbam Michael Morgan, um dentista que faz trabalho cosmético em outro subúrbio de Chicago.
Ele tem visto mais jovens mulheres passando por sua clínica. E mesmo sua filha, de 13 anos, perguntou se poderia branquear seus dentes, algo que ele acha que ela não precisa. Nem considerava seguro para seus dentes jovens ou apropriado para a idade dela.
"Há uma consciência. Elas estão muito mais preocupadas com a aparência de seu rosto. Mas também há pressão social", diz da geração mais jovem para quem ele fará os procedimentos mais conservadores, mas nada mais.
Ele soa triste ao falar do assunto.
"Não há nada errado em querer parecer mais bonito. Nós queremos parecer jovens. Queremos estar ótimos", diz. "Mas parte desse sentimento precisa vir de dentro."
Morreu, morreu
Para aqueles que vão ainda mais longe para manter o envelhecimento -- e a morte -- distantes, também não há garantias.
O guru de restrição calórica Roy Walford morreu de complicações de esclerose lateral amiotrófica aos 79, mais perto da média do que da "vida extraordinariamente longa" de que seus seguidores falam.
Enquanto isso, Alan Mintz, fundador da Cenegenics, morreu relativamente jovem, aos 69, por complicações durante uma biópsia do cérebro.
Algumas pesquisas sugerem que injeções de hormônio do crescimento humano podem causar câncer. Elas também foram ligadas a dores nervosas, colesterol elevado e riscos aumentados para diabetes.
Apesar disso, Life, agora oficial médico-chefe da Cenegenics, continua na mesma rota. Entre outras coisas, ele aponta estudos que sugerem que hormônio do crescimento humano em doses baixas não oferece risco de câncer, se não houver câncer preexistente.
"Nos próximos dez anos, talvez menos, isso vai ser visto como medicina tradicional -- prevenir doenças, reduzir o processo de envelhecimento, impedir que as pessoas percam sua habilidade de cuidar de si mesmas quando ficam velhas e terminar em asilos", diz Life. "Essa é realmente a fronteira da medicina."
Detwiler está apostando nisso.
"Há aqueles que podem pensar que estou trapaceando Deus. Eu não sei", diz. "Mas eu não quero regredir. Por que eu quereria?"
Ele diz que sua gordura corporal média caiu de cerca de 17% para menos de 10%. Ele não pode lembrar a última vez que teve um resfriado ou uma gripe. E diz que tem a energia para trabalhar muitas horas, deixando-o apto a ganhar mais de US$ 1 milhão (R$ 2,5 milhões) neste ano.
É isso que ele sabe agora. O futuro, diz, é mero palpite.
"As pessoas podem dizer, 'Ei, o que aconteceu a essas pessoas? Era fronteira da medicina? Ou era um abismo?", diz, enquanto caminha para a academia. "Acho que só o tempo dirá."
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