"Nós poderíamos ter dado o tiro de comprometimento. Mas era um garoto de 22 anos, sem antecedentes criminais e uma crise amorosa. Se nos tivéssemos atingido com um tiro de comprometimento, fatalmente estariam questionando por que o Gate não negociou mais, por que deram um tiro em jovem de 22 anos de idade em uma crise amorosa, fazendo algo em determinado momento em que se arrependeria para o resto da vida", afirmou o coronel.
Eduardo Anizelli/Folha Imagem |
Polícia invadiu apartamento após adolescente passar cerca de cem horas rendida pelo ex-namorado em Santo André |
Inconformado com o fim do relacionamento, Lindemberg Fernandes Alves decidiu render a ex-namorada na última segunda-feira (13). Na ocasião, ela estava em companhia de três amigos --dois garotos liberados no mesmo dia e a menina que, apesar de ter sido libertada, retornou ao apartamento a quinta-feira (16). A Polícia Militar invadiu o apartamento por volta das 18h10 desta sexta (17). O rapaz foi preso, a ex-namorada levou um tiro na cabeça e outro na virilha e a amiga foi atingida no rosto.
O coronel disse ainda que o apartamento não foi invadido quando ouviram um disparo na manhã desta sexta-feira (17) porque, neste momento, Lindemberg estava tranqüilo, conversando com o negociador de bom humor e tudo levava a crer que ele iria se entregar.
"A equipe que ali estava [na lateral] pensou que ele disparou sem querer. Já de noite, o rapaz estava com outro humor".
Além disso, o comandante do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), Adriano Jovenini, informou que uma técnica usada pelos policiais é distinguir o som do tiro que não atinge nada e um que penetre em algo ou alguém. Ainda não se sabe se o tiro que a garota levou na virilha trata-se do disparado pela manhã ou um dos tiros noturnos.
Perguntado se não poderiam ter colocado sonífero no alimento ou bebida de Lindemberg ou algum gás no apartamento, o capitão disse que isto poderia causar conseqüências que não poderiam ser previstas.
Jovenini informou que há medicamentos que demoram em torno de 15 minutos para fazer efeito e Lindemberg poderia perceber a "traição" e atirar no momento em que estivesse adormecendo.
Os policiais também explicaram que a invasão não ocorreu durante a noite porque apesar de conhecer o espaço físico do local, a amiga da ex-namorada de Lindemberg havia dito que a cada dia o agressor dormia em um lugar, e que às vezes as trancavam no quarto para poder dormir. "Talvez os senhores não entendam, mas nestas horas de crise, temos que analisar toda a situação", diz o coronel.
Sobre a dificuldade para entrar no apartamento, a PM informou que sabia da possibilidade de Lindemberg ter bloqueado a porta com algum móvel, mas que os explosivos foram montados atrás da porta desde o começo da operação como um estratégia para ser usada quando necessária e que a situação teria sido outra se não houvesse uma mesa e um rack de vidro em frente à porta --que prejudicaram a entrada dos policiais.
Robson Ventura/Folha Imagem |
Críticas
O comandante do Gate, Adriano Jovenini, disse que as pessoas que criticam as ações da corporação --como permitir a volta de uma adolescente ao cárcere privado em Santo André-- não têm experiência alguma em situações deste tipo.
"Quem tem condições de avaliar somos nós. Claro que algumas vezes não temos 100% do resultado desejado", revela Jovenini. O capitão disse ainda que eles têm o "feeling" de saber como usar as técnicas de negociação.
O coronel Eduardo Félix afirmou que o risco à vida está sempre presente em ocorrências que envolvem reféns, mas que o Gate fez tudo o que pode.
"Assumo toda e qualquer responsabilidade pelo ato. Deixo claro que o Gate não atirou nas vítimas. Fizemos de tudo para proteger a vida dos três", disse Félix.
Segundo a PM, cerca de 40 policiais do Gate participaram do caso em Santo André, divididos em três equipes. Segundo o coronel Félix, a situação era difícil porque Lindemberg tinha picos de humor e no início pedia somente que a polícia se afastasse para "permanecer no cativeiro com a amada".
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