segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Com R$ 375 mi para o Haiti, Brasil planeja seu maior pacote de ajuda internacional

No maior pacote de ajuda internacional já feito pelo Brasil, o governo está planejando contribuir com mais de R$ 375 milhões com o Haiti, somando-se doações, obras e custeio das forças brasileiras no país, devastado por um terremoto no último dia 12. Mas a reconstrução deve ser feita pelo próprio governo haitiano, disse nesta segunda-feira o chanceler Celso Amorim, em uma reunião internacional em que também defendeu o papel da ONU (Organização das Nações Unidas) na coordenação dos esforços humanitários e de reconstrução.

As declarações foram feitas diante de representantes de outros países reunidos em Montreal, no Canadá, para discutir os próximos passos da ajuda ao Haiti. Além de Amorim, participaram da reunião o primeiro-ministro haitiano Jean Max Bellerive, a secretária de Estado americana Hillary Clinton, o chefe da diplomacia francesa Bernard Kouchner, e representantes da Argentina, Chile, Costa Rica, Espanha, Japão, México, Peru e Uruguai.

Em seu discurso, o chanceler brasileiro disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a doação ao Haiti de US$ 15 milhões a título de ajuda humanitária emergencial, dos quais US$ 5 milhões já teriam sido repassados à ONU, enquanto os outros US$ 10 milhões seriam repassados nos próximos dias. Ele também disse que uma doação similar seria anunciada em breve, para a reconstrução do Haiti.

"Mas isso é apenas uma fração da ajuda que o Brasil está estendendo aos haitianos, em alimentos, água, remédios, equipes de resgate, hospitais de campanha, máquinas para a remoção de entulhos e abertura de vias, entre outros itens", disse Amorim, contabilizando que o pacote total enviado ao Congresso chega a R$ 375 milhões de reais, o que equivale a cerca de US$ 210 milhões.

"Esse valor inclui as doações, os gastos das forças militares com atividades diretamente relacionadas à assistência humanitária no Haiti, e a construção de dez unidades de saúde em território haitiano. Trata-se do maior pacote de ajuda internacional já prestado pelo Brasil, e de um montante muito significativo para um país em desenvolvimento como o nosso."

Em uma entrevista coletiva, Amorim pediu a todos os participantes da reunião que visitassem o Haiti, a fim de terem uma visão não só da situação, mas também do trabalho que há pela frente, acrescentando que Brasília está interessada "em manter uma dimensão latino-americana e caribenha.

"Não temos que perder de vista que o centro de todo o esforço de reconstrução é um governo haitiano com capacidade para governar", disse Amorim à imprensa, em Montreal.

Segundo Amorim, a estratégia geral de uma reconstrução haitiana deve ser "fazer mais e melhor". "Não é questão de fazer tudo diferente", insistiu. "São projetos que funcionam a longo prazo como, por exemplo o reflorestamento que o Brasil está desenvolvendo. São planos que levam anos".

O presidente da conferência, o ministro de Relações Exteriores do Canadá, Lawrence Cannon, repetiu que a reunião não é uma "conferência de doadores" e que os países vão aguardar uma avaliação das necessidades do Haiti antes de assumir compromissos financeiros.

Ele e a secretária de Estado americana disseram que uma conferência de doadores acontecerá em março na sede das Nações Unidas, em Nova York, a convite dos EUA.
O chanceler canadense disse que as negociações produziram o "início de um roteiro" para a recuperação do Haiti.

Hillary pediu melhoras na coordenação da assistência internacional no Haiti, observando que este é um problema antigo no país do Caribe.

"Temos de encontrar melhores mecanismos de coordenação, monitoramento e verificação para garantir que a ajuda e os investimentos sejam utilizados de forma eficaz", disse a secretária de Estado.

Segundo ela, "a comunidade internacional deve assegurar-se de que trabalha de maneira sincronizada". "A coordenação da ajuda ao Haiti há muito tem sido um problema no Haiti. Já era um problema antes do terremoto", acrescentou.

Em seu discurso e em entrevistas, o chanceler brasileiro defendeu que a ONU deve coordenar os trabalhos internacionais, e que o governo do Haiti tem legitimidade para estabelecer as prioridades da reconstrução.

"As Nações Unidas são a moldura que dá a necessária legitimidade ao conjunto de esforços internacionais em favor dos haitianos. A ajuda ao país pode e deve ser coordenada pelas Nações Unidas, com base em mandatos claros e adaptados às circunstâncias, que conciliem as dimensões de segurança e desenvolvimento", disse Amorim.

Mais soldados

Também nesta segunda-feira, o Congresso brasileiro aprovou o pedido do governo para o envio imediato de mais 900 homens para a Minustah, a força de paz da ONU no Haiti, cujo maior efetivo já era brasileiro, com 1.266 homens no dia do terremoto. Também foi aprovada a criação de uma reserva de 400 soldados que ficariam prontos para envio em caso de necessidade. As medidas acompanham a recente decisão da ONU de aumentar para 12.650 o efetivo da Minustah, que conta atualmente com cerca de 9.000 integrantes.

Amorim assinalou estar de acordo com o aumento do número de soldados da missão e disse que por enquanto o número pedido pela ONU é apropriado.

"A Minustah não deve ter uma presença ofensiva como se fosse uma força de ocupação", falou o chanceler.

Além disso, negou que os soldados enviados pelos Estados Unidos após o terremoto tenham criado problemas no território. "Falei muito com os comandantes brasileiros [no Haiti] e nenhum deles se queixou [...]. Os Estados Unidos estão ajudando e cada grupo tem seu papel", explicou.

Cuba, Venezuela e Nicarágua acusaram os Estados Unidos de enviarem 20 mil soldados para o Haiti com o objetivo de tirar proveito da situação humanitária no país e aumentar sua presença militar na área.

Os EUA também passaram a controlar o semidestruído aeroporto da capital. Acordos com o governo haitiano e as Nações Unidas colocaram os americanos a cargo da distribuição de ajuda, enquanto as forças de paz da ONU, comandadas militarmente pelo Brasil, responsabilizam-se pela segurança.

Com agências internacionais

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