sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pilar do sucesso do Hull, Geovanni revela sonhos e como recuperou a carreira


Geovanni comemora um dos seus gols pelo Hull. Até o monento foram seis em 12 jogos
Parece até que um foi feito para o outro. O caçula Hull, que nunca havia disputado a Premier League, deu a chance para que Geovanni recuperasse a carreira. E o meia brasileiro, esquecido no Manchester City durante a maior parte da temporada passada, tem sido peça fundamental de uma equipe que surpreende a Europa com um futebol bonito e competitivo. O casamento é recente, de apenas 12 partidas, mas já dá sinais de que será estável. E feliz.

Por telefone, Geovanni conversou com o GLOBOESPORTE.COM por quase uma hora. O papo, descontraído, revelou muita coisa. Seus desejos, medos, frustrações. Mas também trouxe à tona os seus sonhos. O meia de 28 anos, revelado pelo Cruzeiro e com passagem pelo Barcelona, falou de como tem sido prazeroso conduzir o Hull ao topo da tabela na Inglaterra, um feito que desafia a opinião de críticos, matemáticos e apostadores.

O clube da pequena cidade de Kingston upon Hull, no nordeste inglês, com pouco mais de 200 mil habitantes, foi o último a conseguir a promoção (precisou disputar os playoffs da Segundona) e era considerado por todos o primeiro na lista dos rebaixados. No entanto, tem sido um "convidado indigesto", que ocupa a sexta colocação (chegou a ser terceiro) e já venceu Arsenal e Tottenham, ambos fora de casa. Ah... e deu um trabalho ao Manchester United!


Geovanni é o jogador mais importante do Hull nesta primeira temporada na Premier League
Hull City "Tenho contrato de dois anos e estou muito feliz. Não pensei duas vezes. Sei que aqui o trabalho é sério. A cidade é maravilhosa, o time é formado por guerreiros e temos um técnico muito bom. Nosso sucesso não à toa, é fruto de muito trabalho". Solto em campo "Depois que fui para o Barcelona, em 2001, nunca mais joguei na minha posição, que é meia-armador. Os técnicos não me deixavam solto e tinha obrigação de marcar. Quando o Hull me convidou, conversei com o técnico Phil Brown e pedi para jogar na minha posição ou como segundo atacante. Assim, teria liberdade. E ele me falou para eu ficar tranqüilo, pois eu jogaria assim no Hull".

O iluminado
"Sempre tive facilidade para fazer gols em jogos importantes. Pelo City, fiz um contra o Manchester United. Neste ano, fiz o primeiro gol do Hull na Premier League. Também marquei em Old Trafford e nas vitórias sobre Tottenham e Arsenal. Acho que é confiança e trabalho. Na frente do gol, na hora decisiva, não sou de hesitar"

Líder
"Não me considero o líder. O time tem muitos líderes. Os três volantes (capitão Ashbee, Marney e Boateng) têm papel fundamental. Mas sei das minhas qualidades e sei, também, que tenho parte no sucesso. A disposição deles contagia o time. Tem dado certo".

Futebol inglês "Estou realizando um sonho. Às vezes até me emociono. Lembro da minha infância difícil, numa cidade pequena no interior de Minas Gerais (Acaiaca, de quatro mil habitantes). Jogar na Inglaterra sempre foi meu sonho. Ano passado, foi difícil, quase não joguei no Manchester City. Aqui é diferente. O inglês cobra, mas apóia muito mais o time do que o brasileiro. Eles querem ganhar, mas vão te dar parabéns, bater palmas se perceberem que você se esforçou. O clima nos estádios é fantástico, e a cidade de Hull está eufórica com a campanha. Andar na rua às vezes é difícil por causa do assédio".

Frio e chuva "Neste ano, aqui no Hull, estou tirando de letra. Mas no ano passado foi complicado, cara. Pela primeira vez na vida eu passei frio, e olha que eu havia jogado na Espanha (Barcelona) e em Portugal (Benfica). O dia começa tarde e termina cedo. É muita escuridão, frio. E na Inglaterra chove muito. Mas eu já estou acostumado. Agora, se não tiver muito ruim o tempo, eu já entro em campo de camisa com mangas curtas".

Apesar da curta passagem pelo Manchester City, ele tem espaço no museu do clube
Benção de Deus "O futebol é cruel, porque ele te dá muitas coisas. Dá dinheiro, fama, sucesso, prestígio, mas isso tudo passa. O futebol passa. Deus, não. Ele tem sido muito bom para mim, por isso estou sempre agradecendo. No Brasil, sou pastor evangélico. Aqui, vou à igreja todo domingo, onde encontro amigos e relaxo. Viver pensando futebol o tempo todo é desgastante". Família "Ela é fundamental. Sou casado e tenho dois filhos. Eles moram em Manchester, porque não queríamos tirá-los da escola por uma questão de adaptação. E Hull é perto. Duas horas de carro e estou lá. E nos fins de semana eles estão sempre aqui comigo. Não consigo ficar longe deles. Eles são a minha força fora de campo". Futuro "É difícil falar sobre isso, mas estou tranqüilo porque tenho um contrato de dois anos. O time está bem e, se Deus quiser, continuaremos na Primeira Divisão. Esse ainda é o nosso principal objetivo, porque o campeonato daqui é muito duro. Mas vou te dizer uma coisa: o brasileiro que vem para a Inglaterra não pode pensar em sair daqui. É muito bom jogar aqui. É organizado, tem bons salários, a atmosfera nos estádios é fantástica. Aqui, o jogador é respeitado como pessoa".

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